segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pagar o mal com o bem




Eu senti que havia no ar algo estranho e geralmente, coisas estranhas me chamam atenção. Eu própria sou uma estranha, e às vezes, faço estudo de caso em mim por me chamar a atenção. Então, estava eu quieta em minhas reflexões, absorta, numa quantidade x de pensamentos oriundos das minhas próprias indagações. Minha mente estava vaga, só se deixando ser preenchida por pedaços de ideias, para depois ajustá-las conforme os pensamentos que eu estava sistematizando.
Minutos depois, eu senti aquela sensação estranha voltar e olhei para a casa a frente, ali não morava ninguém, não que eu soubesse. Uma figura me veio à mente, e eu sabia que estava dentro daquela casa, querendo alguma coisa de mim. Eu não sabia exatamente o que era. Uma vez, me disseram que era perigoso prosseguir. Mas, eles não entendiam que eu não tinha medo. Poderiam ser as figuras mais horrendas, e esses seriam somente espíritos que durante sua vida terrena foram tudo, menos corações puros. Então eu fui...
Adentrei a casa escura e lamacenta. Ainda estava em construção, não havia nada  lá. Porém, havia pessoas. Caladas. Não se moviam, pareciam sofrer, e pensando um pouco, estavam à mercê de alguém mais poderoso. Mas quem? Seria a voz que soou em meus ouvidos para eu entrar na casa?
- Quem são vocês? - Perguntei, esperando por respostas.
Ninguém falou nada. Todavia, eu sabia que nenhum deles que estavam ali, era a voz que havia me chamado. 
- Estou aqui, o que você quer de mim? - Direcionei minha indagação a ele.
Apareceu uma mulher, de cabelos escuros. Muito parecida com a aquela personagem cadavérica, a Morticia da Família Addams.
- Quero sua ajuda. – Disse, sem nenhuma emoção aparente.
- Em que eu poderia ajudar? Aliás, quem é você?
- Não sou ninguém, não vai se interessar por isso.  - Pausou. - Eu fiquei preso aqui nessa casa, meus egos não quiseram ir comigo para onde ordenei.
- Isso só mostra o quanto você não dá a mínima para eles, que o poder que acha que tem não é suficiente. Eles são partes importantes de você, deveria se esforçar mais em amá-los.
- Como assim? Por justamente fazerem parte de mim, eles tem que me obedecer!
- Acontece que não é bem assim. Já percebeu que com seu egocentrismo não vai conseguir nunca? Você deixou que eles agissem sozinhos. Já disse, eles são parte de você. A culpa é de quem? Das estrelas que não é! Você não sabe amar.
- Não preciso de palavras cômicas agora, só desejo que me ajude.
- Claro, posso ajudar sim, mas em troca você liberta essas pessoas que eu vejo.
- Não! São meus escravos!
E logo, seus egos começaram a aparecer individuais e independentes. Ele ainda não tinha mostrado a sua figura plúmbea. Se escondia dentro daquele corpo de mulher, achando que eu ia ficar sensível em querer ajudá-lo. Mas não, ele estava sabendo que não.
- Eu não quero voltar. – Disse um ego.
- Ele não sabe de nada, não sabe dizer nada. – Disse um outro.
- Nós somos partes que o constituem, ele não é nada sem nós. E se não voltarmos, ele não poderá ter mais força. – Disse um terceiro ego.
Ali havia muitos, todos com a mesma aparência. Era um homem, com a cor de chumbo, que mais parecia estar se transformando em ovoide. Seu campo metal já não existia mais, eu não via nada mais do que uma massa de energia desfigurada, aprisionada ao horror de suas enfermidades incessantes.
- É isso que você quer? – Perguntei.
- Sim, eu peço, estou ficando sem forças. Nesse tempo de vazio eu pude pensar no tempo que fiquei aqui, sozinho, com minha raiva do mundo, das pessoas que me fizeram mal e alimentado pelo estado de vingança. Sinto muita raiva ainda, não consigo não sentir.
- Mas as pessoas não nos fazem mal. Primeiro, quando nos sentimos ofendidos pelas palavras de alguém é porque dentro de nós, da nossa alma, algo está desajustado, por isso que palavras do tipo, ressalta o que você tem que modificar; do desequilíbrio para retornar ao equilíbrio. Você está coberto de orgulho, egoísmo, vaidade, e todas as outras combinações a estes sentimentos que eu disse antes, o fazem cair em baixa vibração sempre, e por esse motivo está do jeito que está. Onde você pensa que vai chegar?
- Não sei e não sei mesmo se quero saber. Eu não consigo amar, detesto os que amam, que acham que a vida é flores e tudo é fácil. Muitas pessoas dizem que amam porque são interesseiras, não ligam para você. Prometem ficar ao seu lado quando você precisa, e quando chega o dia que você precisa todos somem. Não são capazes de ter empatia. São frios.
- E você é capaz de ter empatia?
- Eu já tive, já ajudei muitos. Mas sempre recebi ingratidão. Ninguém quer agradecer, ficar perto, ajudar. Ninguém! Estão mais interessados em querer tudo pronto, se você tem o que eles querem são gentis, mas se não tem, lhe apedrejam e lhe excluem de sua vida. Como posso querer o amor se ele ainda não me mostrou o lado bom?
- Simples. Você precisa passar por isso, nada é desnecessário. E só conseguirá amar, quando se conhecer melhor amar os seus defeitos e aí, estará pronto para amar os outros. É você que escolhe os sentimentos que quer ter?
- Não. Até agora não consegui escolher, pois se antes eu tentava e não dava certo, eu hoje desisti de todo ele em qualquer circunstância.
- Mas é você que os deixa se desenvolver dentro de si. Você alimentou a raiva, a vingança, a vontade de fazer o mal. Mas para quê? Se o principal machucado dessa história é você? Não há como voltar e arrumar o passado, mas você pode começar a mudar agora.
A partir do momento que eu fui falando, seus egos foram se aproximando dele aos poucos, todos com aquela camada densa, dependentes. Os pensamentos dele ficaram mais leves, e isso fez com que os egos ficassem perto, a ponto de querer voltar. 
- Eu odeio o que eu fiz comigo, porém não quero mais ficar perto daqueles ingratos.
- Você primeiramente precisa estar bem com seus egos, alimentá-los com esperança e fé, e principalmente de amor. E o já o tem dentro de você, é só querer pegar um pouco de vez em quando. Porque esse problema é de você para você. Seus egos são apenas partes que você tem que transformar, são resquícios de outros tempos que ficaram para serem resolvidos pelo conhecimento que adquirisse agora. Use a sua capacidade da linguagem para isso, seja racional, mas se utilize mais do coração. Você conseguirá.
As pessoas que estavam ali foram sentindo se desprender aos poucos, e sumindo. Só sobrou eu, ele e seus egos, ainda fora dele. Então eu vi, um por um, entrar nele. Cada um que entrava fazia com que ele sentisse dor e gritasse. Essas dores representaram a sua coragem e credibilidade em tudo o que falei. Porque todo espírito que é denso demais, não vibra e não sente, é como se estivesse em estado mórbido, incapaz de sentir que está vivo. E ele começou a sentir novamente, por isso, as dores. Era um novo despertar.
O último entrou nele e uma luz violeta se beirou em sua cabeça. Sua forma ganhou um pouco de tonalidade lilás. Havia agora outras figuras do bem ao seu redor, emanando luz azul, violeta, branca e prata e, todos orando para que aquele espírito inferior voltasse para as suas origens e quisesse se retratar com ele mesmo perante as enfermidade que se deixou criar.
Após alguns momentos de distribuição de energia, aquele espírito se sentiu melhor e voltou a sua figura de homem, um belo homem pelo visto. Cabelos curtos, alto, moreno.
- Eternamente grato, meu nome é Henson.
- Que seja feita a vontade do Pai e não a minha. Vá com Deus irmão.
E ele se foi, juntamente com os outros. O caminho ainda lhe seria longo demais, pois passou muito tempo culpando os outros pelas suas frustrações e cada culpa o fazia se distanciar de si mesmo, aglomerando uma massa cinzenta de energia indisposta, da qual não teve utilidade nenhuma. Isso resultou em seu aprisionamento, e a independências de seus egos. Ficou naquele estado enfermiço porque se alimentava de raiva.  Além disso, o mal se alimenta do bem dos ignorantes que não sabem o que fazem, e suas energias leigas servem de alimentos para seus algozes. O ódio e o rancor o rebaixaram, pois, para ser superior ao seu adversário, que seria seus egos, deve ter a alma mais nobre, maior e mais generosa. E isso é pagar o mal com o bem, por mais difícil que seja.


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