sábado, 9 de agosto de 2014

O que se leva desta vida?





Ela tentou, incessantemente. Chorou as noites que tinha para chorar, não por ela, mas pela ignorância dos outros em suas atitudes e pensamentos sem raciocínio e sem emoção. Felizmente ela era mais madura do que a sua idade humana. Felizmente ela tinha a sensibilidade para descobrir quem precisava do que, quem estava carente de que, e quem  não estava feliz com o que. Todavia, infelizmente, ela era sugada a cada tempo, nesse maldito tempo de angústias, de esperas por coisas que não iam acontecer, de agonias, de desesperança. Ela sabia que sabia mais do que devia saber e muitas vezes se perguntava: por que tenho que saber de tudo isso? Por que me sinto sem débitos com Deus quando ajudo essa raça que não sabe o valor da gratidão? Por que eu sou capaz de sentir o que eles sentem? Por quê? Aonde isso vai chegar? E eu, o que serei sem forças e sem energia? Não sei onde onde vem tudo isso, quem sabe é o meu amor incondicional? Ela refletia desse jeito, mas uma hora parou.
Muitas das vezes, as suas tentativas de tentar ajudar era em vão. Tamanha era a falta de sensibilidade e ignorância alheia, falta de percepção com o que acontecia ao redor. A única explicação que ela conseguia ter era de que eles não estavam preparados para entender a situação do momento, que havia mais véu do que lucidez. Então, em momentos que o cansaço físico e mental lhe tomava conta, ela ardia em lágrimas e vestia a roupa do despejo prático. Recolhia-se em seus pensamentos e tecia ideias das quais pudessem fazer sentido na cabeça daqueles que ainda não haviam despertado. Que estavam dormindo dentro de si. 
Com o planeta em transição, aqueles que são ou foram muito maus consigo mesmo,  e principalmente com os outros, estão indo embora; daí surgem doenças inexplicáveis ao entendimento humano, acidentes desacreditáveis, e outros tipos de mortes que não há compreensão. Esses estão sendo tirados da terra aos poucos, para se reparar e não mais contaminar e atrasar os outros que estão despertando para a vida. É como se fosse uma varredura. Para que a casa fique limpa é necessário que aja uma limpeza bem feita, assim, o ambiente fica harmônico. É isso que está acontecendo, mas ninguém pensa desse jeito, estão todos colados em suas mentes egoístas, orgulhosas, vaidosas e instáveis, querendo acumular o que é desnecessário, tanto material, quanto emocional e sentimental, sem pensar tanto no espiritual.
Ela sabia que a terra seria um lugar de luz daqui há uns milhões de anos, talvez. Dependendo da boa vontade do ser humano. A evolução humana ainda é atrasada e densa, por isso tantas calamidades para que acordem de uma vez. É estranho pensar nisso. Mas, pensando no grão de areia que cada pessoa é neste planeta minúsculo, e que cada ser possui a sua personalidade e bagagem anterior, é incrédulo acreditar o estrago que fazem e só com o orgulho e o egoísmo já é uma calamidade sem valor, só serve para mais aprendizados, repetitivos. É como se tivessem sempre reprovando na escola e não conseguissem passar de ano.
Além disso, ela temia por esses que deixavam sua vida numa vitrine, só para serem desejados e contemplados, porém fora dali, era diferente. Muitos não aceitam ajuda por sinalizar que não precisam, que podem se virarem sozinhos, isso ou aquilo, todavia eles mantem as aparências para os outros verem somente como são por fora, pois que dentro há uma imensidão podre que não foi varrida e continua lá criando "bolô" e fedendo cada vez mais. Tal qual como se deixa a parte do terreno da frente de sua casa bonito e arrumadinho, e atrás dela há sujeira e desordem. Não tem como esconder nada de Deus, pois ele tudo sabe. 
Ela era somente um instrumento de Deus. Muitas pessoas a temiam, não por ela ser má, mas por não ser falsa, não gostar de pessoas dependentes, no sentido de não moverem uma palha para mudar alguma coisa e, deixar os outros fazerem o trabalho mais denso. Então, os que queriam vida fácil a temiam pelas suas simples palavras, como: "eu te ensino como fazer" e não "eu faço para você". Eram muitos o que gostavam da segunda opção. Para quê se sacrificar se o outro pode fazer por mim? Assim tá fácil. Ela sempre de dispôs a ajudar dessa maneira, para que todos fossem independentes emocionalmente, sentimentalmente, e materialmente. Temos tudo o que precisamos, o resto é excesso. E o que excede não serve para si, e sim para o outro. O que sobra só serve para ser mais um véu para ajudar na cegueira que impede de ver todos os sentimentos correlatos ao amor e a caridade.
No dia do enterro dela essas lembranças ressoavam nas pareces dos olhos de todos ali presentes, onde as lágrimas caíam vagas. Ela estava toda de branco em seu caixão e todas as pessoas que a amavam, que gostavam e em geral nutriam algum sentimento por ela estavam ali. Seu rosto estava sereno, parecia em paz. Seus lábios num gesto suave congelava um sorriso simples. Suas mãos cruzadas, delicadas, muito fora o instrumento que usou enquanto estava usando aquele corpo. Todos estavam tristes. Sua morte fora causada por aneurisma cerebral, por consequência entrara em coma profundo.  Ocasionou em morte encefálica. Ninguém quis acreditar, pois ela nunca reclamara de dor de cabeça, falta de visão, ou qualquer sintoma do tipo. Ela sempre fora muito atenciosa e esquecia de si mesma quando tinha que ajudar o outro. Talvez nunca tivessem notado pela seus modos simples de não dá importâncias às suas próprias dores. Entretanto, ela estava lá e se pudesse ouvir os comentários, como: ela era maravilhosa; ela tentou me ajudar e eu não quis; ela sempre me ouvia; ela nunca se recusou a nada pra mim; eu nunca a vi triste; ai que saudade daqueles conselhos, daquele sorriso, daquela imensidão de amor e principalmente daquele olhar meigo e caridoso; era contínua as lembranças. Porém, não é isso que acontece depois que a pessoa morre? Não ficam falando e falando que a pessoa era isso ou aquilo? No entanto, o que se leva dessa vida senão os bens morais?