quarta-feira, 25 de junho de 2014

Meus eus

     


     E o meu mundo interior é configurado com cinco eus ativos. Esse mundo é constituído também por cores, por criaturas diversas, e cenários, às vezes, inimagináveis. Esses meus eus, dos quais se constroem segundo por segundo, criam em seus contextos sociais indispensáveis e obrigatórios, os seus conceitos e paradas necessários à tessitura das suas raízes verdadeiras.
     Às vezes, me pego usando esses eus sem perceber, e que vez ou outra, eu também me pego tendo consciência de que estou usando-os. Por vezes, quero varrer as tempestades dentro desse mundo que ninguém conhece; dentro de mim, que somente eu deixei tais sujeiras se acumularem em seus aspectos mais temíveis a meu ver, de acordo com as ideias utópicas que me envaidecem. Porém, isso faz parte das ideias dos meus eus, pois eles são partes de mim.
     O meu eu superior é um passarinho que me designa a voar, visto que sem ele eu não seria tão cabeça aberta e não teria vontade de arriscar de vez em quando; meu eu inferior quer mostrar métodos luciferiano ao meu coração, me fazendo acreditar que ele é o caminho certo; meu eu mascarado é aquele que cria mais cores e mais criaturas no meu universo particular e, me faz sair das rotinas estagnadas que meu eu inferior quis me colocar, pelo menos o eu mascarado me coloca em movimento; o meu eu criança é aquele que não me deixa esquecer que brincar faz parte da vida e que certos momentos com doces e travessuras, cobre a alma de guloseimas e piadas, aquelas que são necessárias para gargalhar de vez em quando, distrair a mente da bagunça interior. E há outro eu, não menos importante, é o eu observador, aquele que vê todos os outros eus agindo. Ele observa, coleta dados e analisa-os. É o eu observador que sabe o que se passa no palco da minha vida.
     Esse é meu mundo, aquele que é contínuo e efêmero, e também se desenvolve a cada vez que um dos meus eus resolve aparecer, com uma novidade ou até um problema. Além disso, sem eles eu não seria construída nas ruelas da minha imaginação fértil, pois não teria como viver em sociedade, visto que cada um é importante para meu crescimento moral e intelectual.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pagar o mal com o bem




Eu senti que havia no ar algo estranho e geralmente, coisas estranhas me chamam atenção. Eu própria sou uma estranha, e às vezes, faço estudo de caso em mim por me chamar a atenção. Então, estava eu quieta em minhas reflexões, absorta, numa quantidade x de pensamentos oriundos das minhas próprias indagações. Minha mente estava vaga, só se deixando ser preenchida por pedaços de ideias, para depois ajustá-las conforme os pensamentos que eu estava sistematizando.
Minutos depois, eu senti aquela sensação estranha voltar e olhei para a casa a frente, ali não morava ninguém, não que eu soubesse. Uma figura me veio à mente, e eu sabia que estava dentro daquela casa, querendo alguma coisa de mim. Eu não sabia exatamente o que era. Uma vez, me disseram que era perigoso prosseguir. Mas, eles não entendiam que eu não tinha medo. Poderiam ser as figuras mais horrendas, e esses seriam somente espíritos que durante sua vida terrena foram tudo, menos corações puros. Então eu fui...
Adentrei a casa escura e lamacenta. Ainda estava em construção, não havia nada  lá. Porém, havia pessoas. Caladas. Não se moviam, pareciam sofrer, e pensando um pouco, estavam à mercê de alguém mais poderoso. Mas quem? Seria a voz que soou em meus ouvidos para eu entrar na casa?
- Quem são vocês? - Perguntei, esperando por respostas.
Ninguém falou nada. Todavia, eu sabia que nenhum deles que estavam ali, era a voz que havia me chamado. 
- Estou aqui, o que você quer de mim? - Direcionei minha indagação a ele.
Apareceu uma mulher, de cabelos escuros. Muito parecida com a aquela personagem cadavérica, a Morticia da Família Addams.
- Quero sua ajuda. – Disse, sem nenhuma emoção aparente.
- Em que eu poderia ajudar? Aliás, quem é você?
- Não sou ninguém, não vai se interessar por isso.  - Pausou. - Eu fiquei preso aqui nessa casa, meus egos não quiseram ir comigo para onde ordenei.
- Isso só mostra o quanto você não dá a mínima para eles, que o poder que acha que tem não é suficiente. Eles são partes importantes de você, deveria se esforçar mais em amá-los.
- Como assim? Por justamente fazerem parte de mim, eles tem que me obedecer!
- Acontece que não é bem assim. Já percebeu que com seu egocentrismo não vai conseguir nunca? Você deixou que eles agissem sozinhos. Já disse, eles são parte de você. A culpa é de quem? Das estrelas que não é! Você não sabe amar.
- Não preciso de palavras cômicas agora, só desejo que me ajude.
- Claro, posso ajudar sim, mas em troca você liberta essas pessoas que eu vejo.
- Não! São meus escravos!
E logo, seus egos começaram a aparecer individuais e independentes. Ele ainda não tinha mostrado a sua figura plúmbea. Se escondia dentro daquele corpo de mulher, achando que eu ia ficar sensível em querer ajudá-lo. Mas não, ele estava sabendo que não.
- Eu não quero voltar. – Disse um ego.
- Ele não sabe de nada, não sabe dizer nada. – Disse um outro.
- Nós somos partes que o constituem, ele não é nada sem nós. E se não voltarmos, ele não poderá ter mais força. – Disse um terceiro ego.
Ali havia muitos, todos com a mesma aparência. Era um homem, com a cor de chumbo, que mais parecia estar se transformando em ovoide. Seu campo metal já não existia mais, eu não via nada mais do que uma massa de energia desfigurada, aprisionada ao horror de suas enfermidades incessantes.
- É isso que você quer? – Perguntei.
- Sim, eu peço, estou ficando sem forças. Nesse tempo de vazio eu pude pensar no tempo que fiquei aqui, sozinho, com minha raiva do mundo, das pessoas que me fizeram mal e alimentado pelo estado de vingança. Sinto muita raiva ainda, não consigo não sentir.
- Mas as pessoas não nos fazem mal. Primeiro, quando nos sentimos ofendidos pelas palavras de alguém é porque dentro de nós, da nossa alma, algo está desajustado, por isso que palavras do tipo, ressalta o que você tem que modificar; do desequilíbrio para retornar ao equilíbrio. Você está coberto de orgulho, egoísmo, vaidade, e todas as outras combinações a estes sentimentos que eu disse antes, o fazem cair em baixa vibração sempre, e por esse motivo está do jeito que está. Onde você pensa que vai chegar?
- Não sei e não sei mesmo se quero saber. Eu não consigo amar, detesto os que amam, que acham que a vida é flores e tudo é fácil. Muitas pessoas dizem que amam porque são interesseiras, não ligam para você. Prometem ficar ao seu lado quando você precisa, e quando chega o dia que você precisa todos somem. Não são capazes de ter empatia. São frios.
- E você é capaz de ter empatia?
- Eu já tive, já ajudei muitos. Mas sempre recebi ingratidão. Ninguém quer agradecer, ficar perto, ajudar. Ninguém! Estão mais interessados em querer tudo pronto, se você tem o que eles querem são gentis, mas se não tem, lhe apedrejam e lhe excluem de sua vida. Como posso querer o amor se ele ainda não me mostrou o lado bom?
- Simples. Você precisa passar por isso, nada é desnecessário. E só conseguirá amar, quando se conhecer melhor amar os seus defeitos e aí, estará pronto para amar os outros. É você que escolhe os sentimentos que quer ter?
- Não. Até agora não consegui escolher, pois se antes eu tentava e não dava certo, eu hoje desisti de todo ele em qualquer circunstância.
- Mas é você que os deixa se desenvolver dentro de si. Você alimentou a raiva, a vingança, a vontade de fazer o mal. Mas para quê? Se o principal machucado dessa história é você? Não há como voltar e arrumar o passado, mas você pode começar a mudar agora.
A partir do momento que eu fui falando, seus egos foram se aproximando dele aos poucos, todos com aquela camada densa, dependentes. Os pensamentos dele ficaram mais leves, e isso fez com que os egos ficassem perto, a ponto de querer voltar. 
- Eu odeio o que eu fiz comigo, porém não quero mais ficar perto daqueles ingratos.
- Você primeiramente precisa estar bem com seus egos, alimentá-los com esperança e fé, e principalmente de amor. E o já o tem dentro de você, é só querer pegar um pouco de vez em quando. Porque esse problema é de você para você. Seus egos são apenas partes que você tem que transformar, são resquícios de outros tempos que ficaram para serem resolvidos pelo conhecimento que adquirisse agora. Use a sua capacidade da linguagem para isso, seja racional, mas se utilize mais do coração. Você conseguirá.
As pessoas que estavam ali foram sentindo se desprender aos poucos, e sumindo. Só sobrou eu, ele e seus egos, ainda fora dele. Então eu vi, um por um, entrar nele. Cada um que entrava fazia com que ele sentisse dor e gritasse. Essas dores representaram a sua coragem e credibilidade em tudo o que falei. Porque todo espírito que é denso demais, não vibra e não sente, é como se estivesse em estado mórbido, incapaz de sentir que está vivo. E ele começou a sentir novamente, por isso, as dores. Era um novo despertar.
O último entrou nele e uma luz violeta se beirou em sua cabeça. Sua forma ganhou um pouco de tonalidade lilás. Havia agora outras figuras do bem ao seu redor, emanando luz azul, violeta, branca e prata e, todos orando para que aquele espírito inferior voltasse para as suas origens e quisesse se retratar com ele mesmo perante as enfermidade que se deixou criar.
Após alguns momentos de distribuição de energia, aquele espírito se sentiu melhor e voltou a sua figura de homem, um belo homem pelo visto. Cabelos curtos, alto, moreno.
- Eternamente grato, meu nome é Henson.
- Que seja feita a vontade do Pai e não a minha. Vá com Deus irmão.
E ele se foi, juntamente com os outros. O caminho ainda lhe seria longo demais, pois passou muito tempo culpando os outros pelas suas frustrações e cada culpa o fazia se distanciar de si mesmo, aglomerando uma massa cinzenta de energia indisposta, da qual não teve utilidade nenhuma. Isso resultou em seu aprisionamento, e a independências de seus egos. Ficou naquele estado enfermiço porque se alimentava de raiva.  Além disso, o mal se alimenta do bem dos ignorantes que não sabem o que fazem, e suas energias leigas servem de alimentos para seus algozes. O ódio e o rancor o rebaixaram, pois, para ser superior ao seu adversário, que seria seus egos, deve ter a alma mais nobre, maior e mais generosa. E isso é pagar o mal com o bem, por mais difícil que seja.


terça-feira, 17 de junho de 2014

Leonardo: o imediatista




 Leonardo nunca se perguntou o que era o sofrimento, e era o usuário dele de vez em quando. Além disso, o dicionário já respondia: dor física ou moral. E para ele a resposta estava ali e não precisava entender o que era esse sentimento. Ele não tinha tempo e paciência para tal ação. Tudo bem, mas isso não explica em sentido prático, e Leonardo sofria por ser imediatista, mas ele não sabia como não ser imediatista, por isso sofria. O empresário não sentia interesse algum em comprovar o que era/é o sofrimento.
Para Leonardo, era perda de tempo esperar por qualquer coisa que fosse, e não valia seu tempo e nem sua dedicação. Ele só queria resultados e de preferência, para ontem, pouco se importava com as pessoas que amavam os processos. Sem rodeios, nada de muitas explicações, ele só queria praticidade. Só.
Leonardo nunca se deu conta de que existe muito mais do que ele vê, e ele estava enfadado ao sofrimento sem conhecê-lo. Como se fosse um cego. Ele nunca gostou de filosofia, isso era perda de tempo. Nunca se perguntou o que era a dor física ou a dor moral? E nem mesmo antes disso, nem se atrevia a perguntar o que era o físico e o que era o moral. Tudo sendo um jogo de perguntas e respostas, da qual requer paciência nesse processo de aprendizagem. E Leonardo? Nem sinal de empenho algum nesse quesito.
Quem tem paciência? Leonardo não tem! Por isso nunca a perdeu. Era acostumado a ter pessoas ao seu redor trabalhando para ele e lhe dando somente resultados. E nada de acompanhar processos. Talvez nunca tenha se apaixonado, que triste era Leonardo sem um amor, tal qual um pássaro sozinho no mundo sem poder usar o seu cantar, ou escondendo ele. E também, ele nem tivesse capacidade para aguentar um relacionamento, pois isso exigiria tempo e paciência, e o imediatista teria que esperar passar por um processo, isso seria contraditório. Mas, Leonardo não! Ele só tinha tempo para seu crescimento material.
Leonardo via a vida racionalmente. E ele tinha sérios problemas com seu imediatismo. Desenvolveu uma ansiedade patológica e fobias do depois. É! Leonardo era apaixonado pelo agora e morria de medo de que o depois chegasse sem os resultados que ele queria. Ele acreditava que a vida era somente o presente. E por isso, ele tirava conclusões precipitadas, em relação às emoções, de algo que ele mesmo criava, pois não se dedicava a aprender a lidar com elas. Mas também, ele se deixava levar pelas suas criações, através do veneno eficiente da sua imaginação que estava dando uma pitada nas respostas. Mas por quê? Bom, o porquê não se sabe, mas seu ego imediatista o fazia sofrer horrores na calada das noites, em seus pesadelos sistemáticos. Lá ele sofria mais porque tinha que esperar o pesadelo passar, ficava preso até seus olhos abrirem novamente. Dormir passou a ser uma tortura e não um descanso, não para Leonardo.
E todas as noites Leonardo sentia um vazio enorme. Ele não sabia lidar com a mãe ao telefone, ela falava muito de sentimentos e ele sempre tirava  conclusões imprudentes, pois não sabia ouvir e nem falar, não sabia fazer papel de interlocutor quando era necessário. O problema é que ele não era bom com diálogos; ele só se perguntava por que as pessoas gostavam tanto de fazê-lo esperar, e tinha taquicardia. Mas quem sabia disso? Ninguém! Leonardo não tinha para quem contar.
Um dia, por causa dessa ansiedade, ele parecia ter vulcões dentro dele que o queimava e uma hora explodiria. Pediu a sua assistente o resultado das últimas vendas da empresa, e ela se demorou. Para quê? Leonardo sentiu fortes dores no peito e falta de ar, caiu duro no chão, suando frio e foi levado ao hospital às pressas com ajuda da ambulância. Seu corpo estava elétrico, ele se debatia, gritava. Os médicos cuidaram dele e resolveram fazer exames. Leonardo, depois da crise, viu que estava num hospital. Sua ansiedade voltou e a taquicardia também. Ele não aguentou esperar o resultado dos exames e não resistiu. O imediatista veio a óbito. Ele ainda teve sorte de morrer no hospital.




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Meu Pequê


Uma vez, não tão longe, eu achei que você viria a cavalo de um lugar muito distante e que, quando chegasse até a mim, me pegaria em seus braços e me colocaria no cavalo e partiríamos. Eu costumava sonhar com todos os casais das novelas mexicanas, com seus ardores transparecendo à flor da pele, a paixão arraigada através dos olhos, demonstrando amor. Com aquele medo costumeiro de perder um ao outro. Eu sempre sonhei com você de várias formas, sabores, cheiros... Foram tanto sonhos. E um deles me mostrou que você existe.
Uma vez que me aprisionei em seus sentidos tão claros junto a mim, sabia que, não importava qual lugar fosse, mas eu o encontraria uma vez na vida. Eu sempre tive uma ideia de que você seria a minha salvação, que me tiraria desse mundo tão normal e tão cheio de hipocrisia e me pegaria pelos braços me levando para longe. E esse lugar seria só nosso. Teríamos as árvores, os pássaros, a solidez de nossa própria presença. Só nossa.
Eu sempre o tive dentro de mim, era como um alicerce. Eu poderia ter dias de tristezas, embora eu não consiga guardar e nem sei como é a depressão. Visto que nunca pude comprovar o que é a depressão, pois um sorriso conversava comigo, me pedindo licença para aparecer em meus lábios e pronto, tudo sumia. E lá estava você, em meus pensamentos novamente, sem eu saber como você é de fato. Todavia, isso nunca me importou. Só me importava a sua existência.
No fundo do meu coração, sempre senti que você estava lá, me fazendo companhia quando a dúvida impregnava minha mente. As lágrimas se esfregavam, bem dizer, em meu rosto sensível, à medida que eu deixava aqueles sentimentos saírem de mim para o alívio da minha alma. Além disso, a saudade que eu sentia de você sem ao menos o ter, me pegava tão depressa, isso não durava muito, mas o tempo que durava era tão eterno. Parecia de verdade que seus braços estavam ali me abraçando, afagando meus cabelos e dizendo que tudo ia acabar bem.
A sua essência era o meu conforto, o meu momento de silêncio, a minha meditação das horas do meus eus em autoconhecimento. Você sempre esteve ali, e como uma louca aos olhos dos outros, eu falava com você como se fosse alguém mais importante do mundo. Você era o meu tudo em quase todos os espaços que eu tinha para pensar, não só, entre os meus sentimento. Você não era um problema e sim uma resolução.
Em muitos momentos eu me sentia fraca, eu lhe pegava e colocava para me cantar uma música linda, só para nos dois, para que sua voz doce me distraísse do mundo humano que me cansava. Você era a voz que dizia que ia dar tudo certo, que tudo era uma fase, que nada duraria para sempre e que as respostas não estavam nos livros e sim, dentro de mim.
Eu te amo tanto meu pequê. Você é uma luz alcançável e isso me conforta. Mas também, é meu tudo quando me sinto um nada. E é mais que tudo isso, é aquilo que eu ainda não sei explicar com palavras humanas. Pois, a explicação que tenho vem de meus sentidos limitados, mas sei que há algo lindo e grande que movimenta as nossas almas, e nos faz ficar no mesmo lugar. As estrelas me mostraram você, e por obra da vida você também é uma estrela, da qual elas me mostraram, por isso brilhas tanto dentro de mim. Logo, o que sentimos é muito mais importante do que aquilo que vemos.

sábado, 14 de junho de 2014

E – L – A – S: Regresso da nova cor - Parte I



     Tudo começou com um sentimento novo no ar, ou melhor, uma cor e, era algo que não se sentia e nem se via por aí, nem de vez em quando. Acredito que nunca. E sabe quando falta aquela cor para que teu arco-íris fique completo? Bom, mais ou menos isso. Além disso, são consequências da vida. Ainda que não há nada para ser explicado, porque depois de explicado não tem graça, pois as preliminares são mais motivadoras do que um resultado.
    Fui convidada a fazer uma escolha “amorosa”, sem reprimir nada, nada do que era apresentado. Deixei a minha velha imagem para trás, daquele espelho que eu costumava frequentar às minhas velhas abstrações, e considerei em mim um “eu” que sempre soube que estava aqui, mas que de acordo com as minhas escolhas do passado, esse “eu” estava dormindo e ainda não estava pronto para aparecer. No entanto, ele despertou mais forte e entusiasmado, pois da outra vez veio fraco e aos meus olhos era invisível e ao meu toque, intangível.
    Parei de praticar o autoenfrentamento, tirei as máscaras dos meus egos – os não seres -, e resolvi conhecê-los melhor. Essa nova cor do meu arco-íris me ajudou a entender que eu posso escolher como agir, sempre. No antes eu só agia sem pensar que poderia escolher, mas agora, eu posso cautelosamente respirar e, entrar com a certeza de que a porta larga não é a mais interessante.
     Essa nova cor, que predomina, abrigou os outros eus. Esse eus que, são de fato os adversários internos: sentimentos negativos. Conciliei a terra e o céu dentro do meu universo interior. Aprendi que, é melhor acolher o sentimento negativo e usar a sua energia para a força interior, a afim tornar uma força só, do que contrariá-lo e perder essa oportunidade de ganhar mais energia, em prol do crescimento moral e intelectual. Mas também, não aceitando isso, acaba ficando difícil a ação, reprimindo-os, pois o ego é apenas a ignorância a ser transformada. Por isso, eu não sou eles, eu estou eles.  
   Quando o ego ama a essência ele se transforma em amor. O problema é reprimir os sentimentos para não tê-los. Não adianta de forma alguma me deixar declinar sem ao menos demonstrar uma verdade como consequência. O meu juiz, sou eu mesma. Posso fazer tudo o que eu desejar: pular de paraquedas, nadar em alto mar, ficar em locais fechados, respirar o mesmo  ar bactericida e venenoso dos hipócritas; eu posso fazer tudo isso, desde que eu tire proveito de qualquer experiência que eu tenha.
   E o regresso dessa nova cor só me fez enxergar aquilo que eu estava sempre procurando, e estava dentro de mim. Os males existem, porque alguns deles eu criei e outros, eu resolvi acreditar. E tudo isso era porque eu estava aprisionada dentro de mim, pensando e sentindo com minhas feridas, de acordo com estado momentâneo,  que não valia a pena querer o que eu quero. O que eu quero ainda não tem nome, mas eu sinto que se seguir com essa nova cor em meu coração eu chegarei mais depressa.
   Os meus passos agora seguem às regras da dança, iluminados positivamente de acordo com esse regresso tão primoroso. O mundo pode cair, a tempestade pode durar dias, os choros podem ser os mais tristes, mas agora, eu preciso continuar, há muito o que andar ainda.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Verônica



Verônica amava o silêncio. Mas, o silêncio incomodava. As pessoas são apegadas às palavras e não a gestos, pois os gestos as fazem ter de interpretar, elas não querem isso, querem algo mais fácil e falar é mais fácil, mesmo que às vezes, a ignorância não deixe ser entendida a mensagem que quer se passar. A linda moça, não falava por não gostar de falar, não expressava qualquer sentimento e seu olhar era sempre vago. Ela achava que o mundo era grande demais, pois isso resolveu recolher as palavras a fim de indagar, já que ninguém tinha boa vontade de ceder um tempo a uma filosofia que ela pudesse entender os humanos. 
Ela não tinha qualquer sintoma de doença física, era saudável, porém havia algo: era intensa demais; ou era infernal ou angelical, tudo isso sem falar nada. Mas também, um olhar seu já bastava, ou era de amor ou de ódio. Não por ela saber odiar, era uma imitação de ódio que ela entendia por si só, um espécie de repulsão pela ignorância alheia, a falta de vontade de conhecer e se importar com seu próximo. E o que ela conseguia dar em troca, era um olhar ou nenhum. 
Sua família a levara a todos os psiquiatras do país, mas Verônica não respondia, não piscava, não se movimentava, apenas abria seus grandes olhos azuis fixamente manipuladores para quem quer que fosse, que estivesse atrás de um jaleco branco, escrito "doutor". Sempre sem expressão. Não mexia nem as sobrancelhas. 
Eles diziam que ela não estava na fase certa de aprendizagem, que ela não tinha autonomia o suficiente para lidar com sua personalidade e, que era isso que seus pais queriam tanto. Ninguém sabia do que Verônica gostava, por justamente ela nunca desejar falar ou manifestar gostar de alguma coisa. 
Seu processo de construção da etapa normal da vida humana, como: cognitivo, psicossocial e biossocial estava estagnado. Ela não reagia. Não na frente de pessoas errantes e imperfeitas, feito ela, em processo de evolução cuja moral crescia paulatinamente e, que eram preenchidas de vazios sem sentido, mas cheios de onipotência/prepotência, os fazendo crer que eram mais que os outros. Não eles que fariam ela falar alguma coisa. Não eles.
Ela vivia um nada, mas não para ela. Ela por opção se trancar por um tempo dentro dela mesma, para que esse momento passasse sem que ela machucasse alguém que tentasse entender de forma errada o que ela estava querendo. Só uns momentos de silêncio. Só.
Seu mundo interior era somente seu e demais ninguém. também era um tipo de refúgio.
Uma vez ela pensou que seu problema já havia se desenvolvido desde o tempo ultrauterino. Que quando feto não interagia, nem mexia, ou talvez tenha sido a falta de sensibilidade da mãe dela durante a gravidez. E talvez, nem o neurotransmissor dopamina tenha ajudado a transmitir algum sintoma de amor, nesse caso o cortisol tenha sido o culpado por toda essa destruição neurológica de Verônica, mas o cerebelo funcionara bem, ela tentava manter o equilíbrio frente a qualquer ser humano.
Todavia, Verônica não era de plástico, não sofria adaptações. E nem mesmo, através das lágrimas ela deixava extrair os sentimentos reprimidos. Havia um aglomerado ali dentro daquele mundo calado que se mesclava cada vez mais, intercalando emoções, sentimentos e sensações.
Verônica só se tornou mais intensa depois que sua mãe a obrigou a escolher um curso de graduação. Ela nunca gostou da escola. Sofreu com a falta de compreensão dos seus colegas e até mesmo dos seus professores. Havia a marcação cerrada por ela não querer falar e o psicólogo havia desistido de ajudá-la, porque toda vez que ela sentava a sua frente quem chorava era ele, por sentir que aquilo que ela não queria falar estava a matando por dentro. Ele tirou licença e foi viajar. Ela nunca falara a respeito com seus pais e mais ninguém. A escola era sinônimo de inferno.
Os fatores do seu meio sociocultural eram pobres de conteúdo, ela ainda não havia construído algo que significasse tanto para ela.
Um dia, Verônica foi para a janela. Saiu do seu mundo abstrato e foi ver o mundo lá fora.  estava começando a enjoar daquela fase quientante. Uma música soava e talvez viesse da casa da vizinhança. Era um som tranquilo e isso a fez arregalar os olhos. Ela viu pássaros azuis bem pequenos voarem em grupos e cantar; o sol ardia as plantas verdes e as deslumbrava ao olhar humano; o cheiro de natureza adentrou seu campo olfativo, suave, aceitável. Nesse momento, Verônica fechou os olhos e quis sentir o mundo que tanto bloqueou. A vida passava por ela e ela não queria mais ver.
Sua percepção ganhou vitalidade. Começou a querer assimilar a realidade, aos poucos saindo da casca grossa que ela mesma havia criado. Verônica sorriu, pela primeira vez em anos. Foi a cena mais bonita que a natureza poderia presenciar naquela tarde outonal.
- Tudo isso é tão lindo. – Proferiu as palavras com cuidado.
Alguém a ouviu e se aproximou, e também abraçou Verônica. Ela sabia que uma hora isso ia acontecer, era somente necessário que dessem espaço a ela. Esse mundo humano a sufoca de vez em quando. Ficar calada e não se expressar era uma forma de não interagir para não se machucar.
Então, Verônica se deixou sentir. Abriu as portas fechadas e seus egos voltaram a se recolher. Mesmo que o equilíbrio frente aos outros continuasse, o equilíbrio interior estava voltando a funcionar, tudo porque Verônica sentiu necessidade de mostrar um pouco de normalidade para que as pessoas parece de a olhar diferente e a ver com preconceito. Havia outros métodos de as pessoas a conhecerem, desde que ela deixasse.
E foi então que a dual Verônica se tornou uno, ao olhar alheio, mas que em seu mundo continuou as suas manifestações de silêncios não contaminantes a outrem. Visto que ser diferente é assustador para ouvidos e olhos que não sabem sair do robotismo, que é apenas um conforto e um alicerce contra o desconhecido, ou seja, contra ele mesmo. 
Verônica não tinha medo de ser diferente, apenas sabia que os outros não estavam preparados para aceitar tudo isso.