O sorriso da sua face nunca fora
afadigado. Jamais deixara alguém ficar triste ao seu lado. Sua luz que brotava
de seu coração era contagiante, não havia mais ninguém que não notasse isso.
Gabriele encontrava na sua fé e nas suas orações a luz para continuar
enxergando o mundo. Respirar, às vezes, era uma tarefa difícil. Ela tentava de
todas as formas crer que Deus tinha um plano maior para ela, e que nada era em
vão na sua vida.
“Querido Deus, hoje acordei mais disposta. Consigo respirar o ar
puro que o vento me trás, mesmo que enregelante. Em meu corpo ainda percorre a
dor de todo o meu tratamento sofrido. Mas, estou feliz porque hoje Robert vem
me visitar. Ele é meu melhor amigo.”
A quimioterapia a deixou fraca da
última vez que fez. Usava um lenço para disfarçar a falta de cabelos. Cabelos.
Era algo que ela não via fazia um tempo. Ao se olhar no espelho deixou que uma
lágrima caísse de seus olhos quando viu seu rosto.
Essa palavra era uma da qual
Gabriele não gostava de falar e nem de escutar. Dizia sempre que quem ficava
doente era o corpo porque a sua alma, seu espírito eram limpos e muito
saudáveis. Ela acreditava nela mesma.
Um barulho veio da janela e
Robert aparece com um sorriso sapeca. Ele costumava pular a janela. Era o
segredo deles. Isso, desde que Gabi ficara doente. Costumavam ir à escola
juntos, mas depois descobrira o câncer havia parado de frequentar as aulas.
- Oi Rob. – Disse sorridente
secando a gota de lágrima.
- Oi linda! Trouxe um presente
para você. – Disse o garoto.
- Um presente? Para mim? – Falou
entusiasmada.
- Sim. – Ele sorriu. – Pegue.
Espero que goste.
- Um lenço. – Ela disse olhando
para ele. – Que lindo Rob, essa presilha nele é linda. Adorei.
Robert era
um amigo que nunca a deixava. Aparecia sempre quando ela precisava.
- No esta pensando Gabi? –
Perguntou ele preocupado.
Rob sentou ao lado dela e
abraçou. Ela sentia-se tão segura ao lado dele que não precisava de nada mais.
Sua alma enchia-se de alegria. Seu amigo era muito especial.
- Você acha que vou morrer logo
Rob?
- Não. Você ainda me deve muita
coisa, não vou deixá-la partir sem me pagar tudo. – Ele a abraçou ainda mais
forte, sabia que era grave e sentiria muito quando chegasse a hora, mas
procurava amenizar a dor com suas brincadeiras. – Você só está passando por
isso porque é uma guerreira, lembre-se que Deus tem um propósito para você. Não
desista. Há muitas pessoas que sentem orgulho de você e te amam, assim como eu.
Rob lhe deu um beijo no rosto
carinhosamente. No rumo da conversa aos poucos ela foi ficando sonolenta e logo
adormeceu. Robert, depois de um tempo começou a chorar baixinho. Ele amava, mas
não como amiga, e sabia que sofreria demais se perdesse Gabriele. Ela estava
sendo tão forte que às vezes esquecia que estava doente ao lado de Robert.
Todas as noites Robert a fazia
dormir e quando tinha certeza que ela estava dormindo ele desaparecia de seu
quarto. Sempre acertava ir quando não tinha mais ninguém à vista.
Clara, mãe de Gabriele era muito
ocupada e quem cuidava dela durante o dia era uma enfermeira particular que o
pai contratou. Ambos eram ocupados. Gabriele não tinha irmãos, era filha única.
Naquela noite, sua mãe, Clara foi
até seu quarto após Robert partir. Clara olhava para sua filha e chorava.
Sentia-se culpada por não estar tão perto dela no momento que ela mais
precisava de sua companhia. Mas, decidira continuar seu trabalho porque se
ficasse em casa não aguentaria ver sua filha sentindo dor e tomando aqueles
remédios horríveis. Gabriele era forte, dizia a sua mãe para não se preocupar.
Clara passou a mão pela cabeça da
filha onde não havia mais cabelo. Gabriele dormia tranquilamente. Rogério, pai
de Gabriele sentia medo do dia em que descobrisse que sua filha não estaria
mais em casa. Ele bloqueava qualquer tipo de lágrima, não se deixava
transparecer na frente de outros, mas quando estava sozinho, as deixava caír.
Todos os dias, na hora do almoço ele ligava para Dora, a enfermeira, para saber
como estava Gabriele. Um dia desses Gabriele questionou.
- Porque meu pai liga e não me
chama para falar com ele? Faz tempo que não o vejo Dora.
- Ele é muito ocupado minha
querida. – Dizia Dora, com dor no peito.
- Da próxima vez me avisa, por
favor, eu quero falar com ele.
Dora sabia que teria que inventar
uma boa desculpa para a menina. Rogério se ouvisse a voz da filha cairia em
prantos. Tornou-se mais ocupado depois que soube do câncer da filha, ele não
conseguia lidar com a morte. Mas uma hora ele teria que ir falar com ela.
O dia amanheceu e Gabriele
levantou aquela manhã mais animada. Pensou em Robert e resolveu ligar para ele.
- Bom dia Gabi, que surpresa você
me ligar.
- Rob, eu hoje estou me sentindo
melhor. Quero respirar ar puro. Me leva em algum lugar, por favor, essa casa me
confina. Eu to doente, mas não morri ainda.
Robert não gostou do que ouvir. Um
frio na barriga passou de raspão e ele entristeceu com as duas últimas
palavras. Ele procurava fazer tudo o que ela queria.
- Depois do almoço, pode ser?
- Sim. O que você quer fazer? –
Perguntou animado.
- Esta bem então senhorita. Não
esquece o lenço que tá frio na rua.
- Pode deixar senhor. – Os dois
riram
Depois do almoço Gabriele se
arrumou. Colocou um vestido longo e um casaco por cima. Olhou-se no espelho e
finalizou com o lenço que Rob lhe dera. Lembrava então, quando tinha cabelo.
Seus cabelos eram lisos e loiros. Robert adorava. Ao pensar que não os tinha
mais se entristeceu. Um barulho na porta do quarto.
- Oi querida, você está bem hoje?
– Perguntou Dora.
- Estou sim Dora. Vou dar um
passeio com Robert.
- Quer que eu vá junto? –
Perguntou Dora preocupada.
- Não Dora. Robert cuida muito
bem de mim. Qualquer coisa eu ligo para você.
- Mas se seu pai ficar sabendo
que saiu sozinha...
- Dora, por favor. Eu entendo
você, mas pense uma coisa, eu quero aproveitar o tempo que me resta. O meu
tempo agora é precioso e quero passar com as pessoas que eu amo. Já que meus
pais nunca estão em casa, me resta Robert.
- Tudo bem querida. Mas por
favor, qualquer coisa me liga.
Uma buzinada e era Robert
esperando lá embaixo.
- Que lindo seu lenço. – Comentou
Dora
- Gostou? Robert que me deu. –
Ela sorriu. – Já vou. – E beijou-lhe o rosto.
Gabriele desceu as escadas. Ela
se sentia muito bem naquele dia. Não havia vestígios de enjoos ou dores. Estava
ótima. Achava até que poderia correr. Mas não abusaria.
- Está linda. – Ele olhou para
seu vestido. – Ficou bem em você.
Ele a abraçou e a rodou em seus
braços como se ela pesasse como uma folha. Sorridente e feliz em ver seu amigo
ela se sentiu a vontade.
- Entre. – Robert abriu a porta
do seu carro para Gabi entrar.
- Estava pesando. Como nos velhos
tempos. Vou levar você para ir ao cinema. O que acha? Tem ótimos filmes.
- Sim, gostaria muito. Faz tempo
que não vou ao cinema.
Robert dirigiu até lá. Gabriele
ficou com vergonha de sair do carro. Ao parar no estacionamento ele foi saindo
do carro.
- Rob! – Ela disse com os olhos
baixos. – Não sei se...
- Gabi, eu estou com você, por
favor, não tenha medo.
Ela se sentia feia. Robert era um
rapaz lindo, chamava atenção das meninas por seu sorriso encantador e seus
olhos grandes e verdes.
- Gabi, você é linda! Uma
bonequinha. Não tem do que se envergonhar.
E sim do que se orgulhar porque ninguém que a vê sabe o que você passou na vida
então... – Ele dizia, olhando bem no fundo dos olhos dela. – Eu amo você. – Ele
finalizou com uma voz doce olhando para ela.
- Eu sei você sempre fala isso.
- Mas amo você mesmo, não só como
amiga...
- O que? – Ela disse surpresa. –
Como assim? – A voz saiu quase num sussurro. Ela mal acreditava em suas
palavras proferidas naquele momento.
- Eu sou apaixonado por você
desde que te conheci na escola. – Ele disse. – Eu... Eu sempre te admirei por
seu caráter e... Não conseguia mais me desgrudar de você... Nem quando você
soube que estava com câncer. Eu nunca conheci alguém tão especial assim, que me
faz sentir tão vivo sabe, você deu sentido a minha vida Gabi. Perdoa-me por
falar isso só agora. E quando soube que estava doente eu chorei feito criança e
morri de medo de perder você.
Gabriele agora chorava sem parar.
Robert a abraçou e repetia várias vezes que jamais ia deixá-la. Ficaria com ela
até o fim dos seus dias.
- Tem certeza disso? Você sabe
que logo estarei com Deus. Você Sabe que... – ela secava as lágrimas. – Que meu
câncer já me tomou por inteira.
Agora foi a vez de Robert chorar.
- Mas... – Ele falava entre
lágrimas. – Enquanto você estiver aqui eu estarei sempre ao seu lado. Eu juro.
Robert olhou seriamente para
Gabi, e quis fazer o que tinha vontade desde que a conheceu. Beijar seus lábios
ternos. E foi isso que aconteceu. Gabi retribuiu da mesma forma apaixonada e
delicada.
- Rob. – Disse ela deixando uma lágrima
no rosto. – Eu também amo você do mesmo jeito. Só não queria que isso
acontecesse porque vou ter que deixar você sozinho. – Finalizou ela chorosa.
- Por favor. – Ele pegou seu
rosto entre as mãos. – Não fale mais isso, você vai viver o suficiente para me
pagar tudo o que me deve.
Eles riram. Ele ainda conseguia
ser engraçado.
- O que eu lhe devo então?
- Começando pelo cinema. – Disse
ele, secando as lágrimas.
Ela sorriu e logo conseguiu sair
do carro. Robert pegou em suas mãos e que agora andavam de mãos dadas. As
pessoas olhavam. Casal jovem. Olhavam para Gabi. Ela agora nem se importava
mais.
Mais tarde, ela sentou-se em sua
cama e pegou um álbum de fotos. Começou a passar as fotos. O sorriso lhe veio
ao rosto quando viu uma foto quando era pequena, em que seus pais havia a
levado ao parque. Esse dia foi tão feliz, como ela poderia esquecer? Os dois
amores eternos de sua vida.
Como tudo foi sendo transformado tão depressa? Não há mais nada
disso.
De seus olhos corriam lágrimas de
saudade. Clara e Rogério eram inseparáveis naquela época. Todo fim de semana
eles passeavam com Gabriele. Ninguém ficava em casa. Dizia Rogério que já
bastava ficar em casa durante a semana por causa do trabalho e da rotina.
Ao pensar dessa forma Gabi entristecia-se
mais. Porque seu pai mudara tanto? Sabia que sua mãe vinha nas noites beijá-la
e orar junto dela. Algumas vezes ela estava acordada, mas não queria
interromper o momento, tinha medo que sua mãe inventasse uma desculpa e saísse
do quarto. Era assim. Seus pais agora corriam dela, como se ela tivesse uma
doença contagiosa, era assim que Gabriele pensava.
- Entre Dora! – Disse Gabriele.
- Sou eu filha. – Disse Clara.
Gabriele não pode contar a sua
felicidade. Já fazia quase um mês que não falava direito com sua mãe, somente
por telefone. Seu trabalho a consumia. Ela era enfermeira, então, lidar com
doentes que não era a filha dela era mais fácil. Foi Clara que cuidara de
Gabriele quando ia para o hospital algumas vezes por causa das quimioterapias
que ela fazia.
- Mamãe! – Disse ela contente.
- O que está fazendo Gabi? – Ela
disse perguntou.
- Vendo algumas fotos antigas. –
Clara debruçou-se na cama de Gabi com ar de cansada. – Veja esta, quando eu
tinha cinco anos. – Dizia Gabriele sorrindo.
- Lembro-me desse dia. Você tinha
tomado dois sorvetes e chorou porque queria um terceiro.
- É você disse que eu ia derreter
por dentro se tomasse mais um, eu acreditei, fiquei com medo.
- Filha. Não vou mais ficar tão ausente,
prometo. Perdoe-me. Sei que você sente medo, e eu estava sendo egoísta de
pensar que somente eu e seu pai também estávamos com medo.
- Não se preocupe. Ninguém gosta
de acompanhar a morte lenta de ninguém. E você, já vê no hospital pessoas
morrerem, eu entendo mamãe, mas sinto muito a sua falta. E não queria
desperdiçar meu tempo ficando sozinha e sim na companhia das pessoas que eu
amo.
- Mas foi egoísmo da minha parte.
Eu ainda estou com medo.
- Mãe, a minha missão está se
findando, eu acredito que Deus me colocou nessa família por alguma razão. Eu
não estou com tanto medo assim.
Clara derramou lágrimas e ficou
abraçada a filha por um tempo.
- Só tenho medo de partir e não
poder ver papai.
As duas ficaram em silêncio.
Deixando as lágrimas se juntarem numa única sensação.
Clara foi tomar banho, estava
cansada demais. Gabriele agradeceu por ela ter falado tudo o que sentia. Gabi
decidira que não falaria de Robert, seria mais uma dor, queria evitar tanto
sofrimento. Ela aceitara a morte, mas sabia que sua família e Robert demorariam
em aceitar.
Gabi deitou-se. E logo adormeceu.
Robert apareceu e deixou uma carta perto de Gabriele. Gabi a deixara
destrancada porque era no andar de cima e Robert a abria sempre sem que ninguém
escutasse ou visse. Já era craque nisso. Deu um beijo em Gabi e se foi. Com
lágrimas nos olhos outra vez por ver sua amada daquele jeito e sabendo que uma
hora ela ia partir.
Como aceitar a perda? Como
aceitar que você nunca mais vai ver aquele rostinho lindo a sorrir e olhar para
você como se fosse único na vida? Doeria eternamente. Só Deus sabia do vazio
que permaneceria no coração daquele rapaz apaixonado.
Ao acordar, Gabriele sentiu seu
nariz coçar. Ela logo abriu os olhos e viu a carta de Robert bem a frente de
seus olhos. Com um sorriso nos lábios, ela pegou e sentou na cama. Abriu com
rapidez a carta e logo já estava passando seus olhos por ela. Robert sempre
fora romântico e Gabi dizia que a mulher que se casasse com ele seria uma
eterna sortuda.
“Bom dia princesa, ontem estive ao seu quarto e a bela adormecida
já estava em seu sono profundo. Assim que terminar de ler esta carta me liga!
Tenho uma surpresa.”
Gabriele pegou o telefone
rapidamente e seus dedos foram precisos na discagem do número de Robert. Logo,
uma voz ansiosa do outro lado já atendera ao telefone.
- Oi meu amor. – Disse Robert
- Bom dia. E o que você tem para
mim hoje? Estou curiosa Rob.
- Tome seu café que em alguns
minutos estou indo ai buscá-la.
Gabriele não pode se conter. Já
pronta, finalizou com a touca que Robert Dara á ela e desceu para esperá-lo na
porta. Em minutos, ele já estava na frente de sua casa.
- Dora! Eu vou sair. – Avisou,
batendo a porta.
Gabi entrou no carro e Robert a
beijou, Dora estava na janela quando viu a cena. Colocou as mãos na boca e
pediu a Deus para que Robert não sofresse.
- Aonde você vai me levar?
- Eu já disse que é surpresa. –
Falou Robert animado.
Robert parou o carro na frente da
escola. Gabriele olhou para ele e sorriu, estava com medo do que poderia
acontecer.
- Suas amigas estão com saudades,
até a professora que você tanto gosta. As pessoas perguntam por você o tempo
todo e eu sempre digo que você já bem. – Ele pegou nas mãos de Gabi. – Faça
isso por mim. Sei que vão recebê-la muito bem.
- jasmim vai zombar porque não
tenho cabelos. Ela sempre invejou porque os delas não eram lisos e macios como
os meus.
- Pode ter certeza que ela não
fará isso. Não vou deixar, aliás, todos sabem que eu estou namorando com você.
Robert elevou o humor de
Gabriele. Ela então sorriu e saiu do carro. Andaram de mãos dadas. Foram em
direção à entrada da escola. Quando chegaram à antiga sala de aula de Gabriele
ela gelou.
- Que saudade. – Ela disse.
Robert entrou na classe e chamou
a professora para não causar alvoroço.
- Querida! – A professora disse.
– Que saudade de você. Vejo que está muito bem mesmo... Robert disse que ia
faltar aula hoje só para trazê-la aqui.
- Oi professora. – Ela disse.
Normalmente Gabriele era falante
com a professora de português. Porém, se sentia triste de nunca mais poder
voltar às aulas. Voltar a ser o que era antes, a não! Essa tristeza tinha que
sumir de dentro dela, estava amando Robert, o que mais poderia querer? Nada.
- Gabi, você está bem? – Robert
perguntou.
- Estou. Só quero voltar para
casa.
Os outros alunos foram até a
porta da sala e viram Gabi, jasmim só observava com tristeza. De tanto querer o
mal de Gabi agora se sentia culpada.
Ao chegar em casa ela foi para o
sofá e deitou-se.
- O que aconteceu com ela Robert?
– Perguntou Dora.
- Só a levei para ver a
professora, mas acho que ela entristeceu-se um pouco. Posso ficar um pouco com
ela?
- Claro que pode! Fique para
almoçar.
Robert sentou na frente de Gabi,
onde estava deitada, deixando somente seu rosto grudado ao dela enquanto
descansava os olhos. Robert sentia sua respiração normal, sabia que ela estava
só descansando.
O telefone tocou. Gabi os olhos e
imaginou ser seu pai. Pegou o telefone e atendeu.
Ele ficou mudo, esperava que Dora
atendesse.
Robert segurava as mãos de Gabi,
sabia do seu relacionamento difícil que tinha com o pai.
- Oi filha... – Um sopro de voz
saiu
- Papai! Estou com muitas
saudades! Quando volta para casa?
- Essa semana estarei chegando. –
Ele disse sem jeito.
- Como você está? – Ela
perguntou.
- Bem. Liguei para saber de você.
Levarei um presente.
- Só quero que você venha. Só,
sinto a sua falta.
- Estarei logo querida. Agora
tenho uma reunião, tenho que desligar. Fique bem.
- Até logo então papai. Te amo.
Ele ficou mudo e sentiu lágrimas
correrem de seus olhos.
- Também amo muito você minha
filha. Estou indo para ficar, vou ficar sem viajar por um tempo. Até logo.
- Ele estava chorando Rob. Senti
isso. É difícil para ela ver a menina dele assim. Eu compreendo a sua dor. Meu
pai disse que vai vim para casa essa semana e, vai ficar um tempo sem viajar.
Robert ainda abraçado á ela sabia
o que seu pai estava pretendo fazer. Não mais correria. Rogério sabia e sentia
que, se ficasse em casa sua filha partiria, porque só faltava ele se entender
com ela para Gabi ir em paz. Esse medo o percorria, mas resolver enfrentar e do
lado de sua esposa eles enfrentaria essa dor.
Final da semana chegou e Gabriele
estava animada. Fez planos com sua mãe para jantassem fora como faziam antes.
E, claro, dessa vez convidariam Robert. Naquele dia, sua mãe havia chegado mais
cedo em casa.
- Mamãe, preciso lhe contar uma
coisa, mas não quero que fique brava comigo e nem com Robert.
- Eu e Robert estamos namorando
e...
- Mas que bom filha, ele é um
ótimo rapaz.
- Mãe, quando eu morrer não quero
que ele fique prezo a minha imagem. Quero que você diga que eu desejo que ele
seja feliz que lá de cima estarei orando por ele e pela sua vida. Faça isso,
por favor.
- Mãe, pare de me ver como se eu
fosse viver mais, por favor, se eu mesma já aceitei isso não quero que finja
mais.
- Não gosto de falar disso Gabi.
Acha que é fácil para mim? Ou até mesmo para seu pai saber que esse câncer está
matando você a cada dia? Acha que quando encontro um paciente no hospital com
câncer não lembro que tenho uma filha assim? Isso dói demais Gabriele.
- Mas, respeito a sua dor, mas
imagine eu. Imagina a minha dor também. – Ele respirou.
- A filha, desculpe você está se
sentindo bem?
- Estou sim. Vou subir e tomar um
banho, papai daqui a pouco chega.
Gabriele estava pronta para
receber seu pai. Colocou um lenço ver de em sua cabeça e desceu. Sentou-se no
sofá, e antes mesmo de ligar a TV viu seu pai entrar. Seu coração disparou d
felicidade. Foi correndo abraça-lo.
Gabriele prometeu para si mesma
que não ia chorar. Mas derramou uma cachoeira e seu pai, a vendo daquele jeito,
chorou também. Os dois choravam como crianças pelo doce não recebido.
- Filha... Tenho muito medo de
perder você. Não vou mais me afastar assim. Prometo. Tirei umas férias e
ficarei aqui agora.
- Pai... – Ela disse entre
soluços. – Não tenha medo. Deus me chama porque sou especial. Estarei com a
graça dele e protegendo vocês.
Pai e filha conversavam
entregando-se a saudade que sentiam um do outro. Clara, quando desceu as escadas,
viu os dois abraçados. Gabi estava sentada ao lado de seu pai. Clara também
começou a expulsar as lágrimas do seu rosto. Ver aquela cena era emocionante
demais. Logo, se juntou a família.
No dia seguinte, foi marcado o
jantar. Robert já havia conversado com Rogério sobre Gabriele. Rogério só pediu
para que ele não abandonasse a filha nesse momento e Robert jurou ficar até o
fim da vida de Gabi junto dela.
O jantar foi ótimo. A família
reunida. Sorrisos e abraços. Palavras de amor, de afeto, ternura e coragem.
- Estamos com você querida. –
Falou o pai.
À noite, em seu travesseiro,
Gabriele orou.
“Senhor me dê mais alguns dias para eu aproveitar este amor que me
cerca. Obrigada por trazer meu pai novamente para minha vida. Fazer minha mãe
voltar a falar comigo e abençoar Robert com meu amor. Quero que todos saibam
que dei o melhor de mim e que vou em paz quando assim, o senhor me chamar.”
O dia amanheceu. Gabriele acordou
se sentindo enjoada. Não. Será? Não deu tempo de ela descer as escadas. Logo
rolou por elas quando desmaiou. Seu pai viu a cena. Apavorou-se. Chamou a
ambulância e logo, quando Gabi estava no hospital. Seu pai chorava muito.
- Sinto muito senhor. – Disse uma
enfermeira.
Rogério entristece-se. Esperou Clara,
ela estava tomando café. Quando Clara adentrou a salinha que os visitantes
ficavam e avistou Rogério ficou surpresa.
- Oi amor, o que aconteceu?
Clara se apressou para o quarto
que Gabi estava. Quando viu a cena chorou. Voltou à sala que Rogério estava.
- Esse momento ia chegar cedo ou
tarde. – Disse ele.
- É eu sei só que eu não queria
acreditar que seria tão cedo.
- Não é melhor ligar para Robert?
Acho que ele tem que saber onde ela está.
- Claro! Tenho o número dele
aqui.
Robert imediatamente saiu de sua
casa e foi direto para o hospital. Chegou com os olhos vermelhos de tanto
chorar.
- Onde ela está Senhor Rogério? –
Disse ele desesperado.
- Calma! Ela está dormindo, foi
um susto.
Robert quis acreditar. Mas alguma
coisa dizia que ela não aguentaria.
Gabi ficou desacordada por uma
semana e assim que acordou viu em sua volta os três amores da sua vida.
Robert foi beijá-la no rosto e a
olhou com medo. Seu pai estava ao pé da cama. A dor era visível em todos os
rostos ali presente.
Um sorriso da moça da cama e uns
suspiros. Aquelas três pessoas ali, ao redor dela, energizando o amor que
sentiam. Gabi então fechou os olhos e num adeus deixou últimas lágrimas
grudadas em sua face. E então ela partiu com fé infinita.