sábado, 6 de dezembro de 2014

Jonas Fernando





         Era uma vez Jonas Fernando... Um poeta, que trabalhava numa livraria. Era desastrado, falava baixo, tímido e simples, e melhor, japonês. Porém, Jonas sabia se expressar de uma forma tão sublime como nunca vi antes, através do seu olhar amistoso e sensível, deveria ser canceriano. Eu sentia tudo o que ele queria me passar, e até o que não queria. Sabíamos muito sem dizer nada. 
           Ele era vendedor na livraria, o conheci lá. Todas as quartas-feiras eu entrava na livraria e, indo na seção de literatura brasileira lá eu o via. Meu rosto já não era qualquer rosto, ele já viu mais vezes, pois Jonas acabou percebendo que eu ia lá uma vez por semana, visto que meus olhos adoravam os olhos puxados dele. Eu não resistia. Eram lindos  e apaixonantes.
            Então, todas as quartas antes do meio dia eu ia lá. Era como uma recarga de energia quando eu o olhava e o sentia me olhar. Eu perguntava das novidades literárias, mais as poesias, e ele falava amavelmente, como se gostasse das minhas perguntas e eu aproveitava cada segundo. Era tão bom ficar perto dele, sentir seu cheiro, ver seu interesse em me ajudar. Além disso, ele não se esquivava de mim, como faziam a maioria dos vendedores quando satisfaziam a vontade do cliente, oferecendo um: "se precisar é só chamar". Não Jonas, ele ficava comigo até eu sair. E eu ia ambora esperando que viesse a próxima quarta.
              Foi num dia quente, veraneio, quando peguei um livro e o deixei cair por manter minha outra mão ocupada, Jonas logo correu, mesmo estando tão perto de mim, em minha direção e ambos abaixamos, e nossas cabeças se bateram, meu coração acelerou forte quando as mãos dele pareciam dois gelos escorregadios segurando as minhas. O belo japonês baixou os olhos e se desculpou. Eu segurava um copo de suco na outra mão, e nervosa deixei cair sem ao menos pensar que estava segurando um copo com suco.  Sorte ela seção não tinha ninguém. Imediatamente Jonas, prestativo, pegou um pano e passou no chão, e depois perguntou se eu queria me lavar no banheiro da livraria, para não ficar suco na minha blusa porque era doce e ficaria melando meu corpo. Estava tão calor. Eu vestia uma saia florida e a blusa era bege.
            Jonas, dócil, me levou ao banheiro e enquanto eu passava sabonete com água na minha blusa, na parte que derramou suco, eu pedi que ele não me deixasse sozinha. Os olhos deles eram de espanto, o máximo que ele podia com aqueles olhos horizontais, porque eu tive que levantar minha blusa e minha barriga ficou à mostra, para que eu pudesse lavar direito. Eu não poderia tirá-la. Meu rosto nesse momento era da cor do fogo.
            O rapaz ficou calado, nada saía palavras de sua boca, embora eu estivesse com muita vontade de agarrá-lo ali mesmo, e arrancaria as palavras não ditas. Segurei-me, como muitas vezes me seguro quando vejo uma coisa linda dessa, para não alarmar mais a situação em que nos encontramos. Além disso, eu ia só naquela livraria para vê-lo e acho que ele sabia disso.
            Eu me encontrava dentro do banheiro, colada na pia e Jonas, na porta, me esperando. Ele não contestou o meu pedido para permanecer ali, simplesmente me obedeceu, não se mexeu, só disse: "Me desculpe, sou desastrado" sorriu ao ver que eu também sorria. Fiquei ruborizada quando ele soltou aquelas palavras que mais pareciam dois tapas na minha cara. Estava mais envergonhada com suas falas do que com seu olhar na minha barriga, porque sua voz era tão meiga! E tirava minha sanidade.
            Quando percebi que já tinha conseguido me livrar do açúcar, agradeci a ele, dei um sorriso e ele ainda ficou me olhando. Depois um sorriso brotou em seus lábios finos, mostrando seus dentes alinhados e brancos. Ah, não pensei duas vezes e disse: “ Você é tão lindo, seus olhos são tão lindos, é bom vir aqui e encontrar você”. Jonas arregalou os olhos sem esperar aquela avalanche de verdades da minha boca. Apenas sorriu, e como um belo olhar, japonesamente, pegou em minhas mãos, beijou as costas delas e recitou uma poesia, enquanto me olhava:

Jamais vi olhos tão vibrantes
Jamais vi boca tão sedutora
Jamais senti uma energia tão gostosa
Jamais conheci uma mulher tão encantadora
Jamais fiquei admirado com tanta pureza
Jamais alguém me desequilibrou assim
Jamais consegui analisar tão simples beleza
Jamais alguém olhou assim pra mim
Jamais senti perfume tão doce e acolhedor
Jamais desejei alguém com tanta certeza
Jamais gostei de brincar de amor
Jamais, tão de perto, vi uma princesa.
Eu quero ser teu, e tu, queres ser minha?

            Minha testa franziu,  como um japa tímido daquele poderia recitar uma poesia? Me peguei procurando sua coragem, pois nem eu, que às vezes sou atrevida, faria isso. Só deu tempo de eu pensar quando Jonas me abraçou e me beijou ali mesmo.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Um sonho esclarecedor



Chovia muito naquele noite.
Eu pegava a xícara de chá e com sono, fui até a janela ver aquele jogo de luzes prateadas da chuva caindo sobre o vibro da janela. Estava escuro lá fora. Não havia nada além da natureza fazendo o seu papel costumeiro. Peguei meu caderno e me joguei no sofá, de frente para a janela. Raios e trovões eram os personagens da noite. Em seguida coloquei a xícara na mesa ao lado e relaxei um pouco, respirando profundamente, deixando o caderno de lado.

Silenciei minha mente. O nada me preenchia e o barulho da natureza chuvosa era a música de fundo. Senti arrepios constantes, mas não dei atenção, estava mais concentrada a não pensar em nada. Estava entre o sono e a realidade, me deixando ir de leve ao embalo daquela canção natural. Então, senti um choque pelo corpo e abri os olhos lentamente como se fosse descobrir a causa do choque. Não me foi surpresa alguma, então, lentamente os fechei de novo. Eu já tinha entendido o porquê do choque e em seguida estiquei os lábios em sinal de compreensão e me concentrei de novo. Logo, adormeci.

Quando abri os olhos estava diante do mar calmo, era de dia. Vi uma pedra grande achatada e me sentei nela. Eu já sabia o que ia encontrar lá, como das outras vezes. Sorri ao pensar que sabia que estava dormindo e estava contemplando o mar no plano astral, uma cidadezinha espiritual acima da minha cidade. Não demorou muito e ele então chegou e sentou ao meu lado, com sua energia ímpar e serena. 

- Você sabe o que virá pela frente, então não tenha mais medo. – Ele disse generoso.

- Eu sei. O medo é a falta de conhecimento. Não sei o que me espera, mas sei que o resultado será bom. Apenas tenho que ser forte e não me deixar cair. Só que, como humana imperfeita, ainda tenho algumas necessidades, e você sabe quais são.

- Mas você está bastante a frente de muitos outros que não sabem viver sem estarem apegados a alguma coisa. Está indo bem, continue ouvindo o seu coração, estará indo pelos caminhos certos. Não esqueça de tudo que já aprendeu.

- Eu sinto uma imensidão confiante. E sei que você me ergue quando o teto parece cair.

- É para isso que estou aqui. E não esqueça do seu livre arbítrio e elevação moral. Isso faz com que sozinha você consiga muito mais, pois tem sua opinião e dificilmente é influenciada para o exagero.

- Isso me faz ser diferente perante os jovens da minha idade, o que chama atenção, e sinceramente eu não gosto de que as pessoas me elevem, não me sinto merecida de tantos elogios. 

- Felizmente alguns desses elogios são muito verdadeiros, é um reconhecimento do que você está fazendo. E você bem sabe que os usamos para falarmos com você, quando achamos necessário. Claro que não percebem que estão sendo inspirados, mas eles jamais falariam o que a moral não permite. – uma pausa. – Um exemplo, é que não seria possível uma pessoa que sente muita inveja de você lhe elogiar sinceramente, seria falsidade, então, agimos pelas pessoas de bom coração, sem muitas paixões enraizadas para dar conselhos aos que precisam ouvir.

- Entendo. Mas, ainda não me acostumo com isso. Mas sei distinguir bajulação e elogios. Acontece que nasci para ser da plateia e não de um palco. Gosto de agir em silêncio.

- É o certo. Porém, às vezes, precisamos mostrar às pessoas o que fazemos de bom para conscientizá-las a fazer o mesmo. Não devemos esconder tudo. O bem tem que ser demonstrado e não mostrado como ser feito. A caridade moral vem de dentro e não está fora de si. Tudo o que precisamos está dentro de nós, pois as leis de Deus estão gravadas na consciência.

- Eu gosto de pensar na felicidade que vem depois. Se eu pudesse fazer mais... O corpo que eu uso me limita demais – franzi a testa - e, não queria deixar ele nessa encarnação. Queria poder ficar perto dele. Dói essa distância.

- Você sabe que ele tem o livre arbítrio.  Embora seus laços sejam infindáveis, ele tem propósitos tão grandes quanto os seus nessa encarnação. Ele é um espírito afim, que lhe amou por muitas vidas, assim como você o amou também. Todavia, você sabe que nem sempre dá para ficar com o mesmo espírito por causa de suas bagagens e resgastes.

- Penso em por que ele veio aparecer. Por vezes acho que sei, e outras não sei. Meu coração sabe do meu caminho, sabe o que tenho que fazer. Mas o amor que sinto por ele é tão grande que não cabe em mim. Faz-me querer ficar perto dele, embora eu valorize muito a independência e individualidade. Não sinto necessidade de estar perto sempre, mas sim de espírito, de poder contar com o apoio dele.

- Ele vai sempre estar disposto a lhe ouvir, amar, entender e se possível lhe ver. É muito importante na sua vida à medida que você dois vão evoluindo. Ele tem razão em dizer que, você sabe o que tem que fazer. E também que vai ser difícil e vai dar trabalho. Além disso, mais razão você tem quando diz que com ele será mais fácil. Estar junto da pessoa que amamos as dificuldades se tornam mais leves e menos pesarosas, porque um seguro o outro com seus laços de amor.

- Então, me sinto tão tranquila. Com uma emoção tão gostosa de ser sentida. É como se não me faltasse mais nada. É como se o fato de já ter conhecido ele eu já tivesse alcançado um ponto muito importante e cheio de valor na minha vida. Vejo tudo com mais amor do que eu já cultivava. Ele acendeu uma chama que estava apagada, eu vejo mais do que antes, ouço mais do que antes, sinto tudo mais do que antes; graças a ele eu voltei de um coma profundo.

- O amor é o sentimento mais importante do universo, move montanhas. Quem o sente vê tudo com a alma e tem mais facilidade de amor ao próximo e perdoar. E também compreender que todos são espíritos em evolução, que merecem ser amados e auxiliados com atenção e paciência. Porque cada um filho de Deus igual. O orgulho, o egoísmo e a vaidade ficam tão pequenos, que nem conseguem ter força contra o amor.

- Que lindo isso. Consigo sentir esse amor lindo que me faz tão feliz. – Chorei emocionada e Jonas sorriu, pois já sabia. E Entre soluços continuei. – Nunca... desde que me lembro... encontrei alguém que me completasse tanto. Nunca! E por isso não sei como agir, não sou uma mulher comum, que faz de tudo pra ter o homem amado do lado e esquece do resto. Eu não consigo ser assim. Todavia sei o valor de um amor verdadeiro.

- Sim, de fato você dois estão trilhando o mesmo caminho. Podem decidir muitas coisas e fazer muitas coisas juntos. Não há necessidade de fazer o que é comum a todos, pois os outros já fazem. E estar levando um relacionamento como o único departamento mais importante é um erro, a não que isso harmonize os outros campos também. Vocês são maduros nesse quesito. Por isso tanta confiança em si mesmos. Por isso não há mais ansiedade do que o normal. Há respeito e a certeza do amor que ambos sentem. Vocês vão conseguir ser muito felizes. A chave desse caminho feliz vocês já tem é só explorar. Confie em Deus.

Meus olhos ficaram nublados de tanto que chorei emocionada. Quando senti outro choque, já sabia que estava de volta à minha casa e devagar eu podia ouvir o barulho da chuva que antes me levara ao sono, só que agora mais leve. Senti um alívio e um carinho me aquecer. A energia de Jonas era um calmante que me deixava tão mansa que eu mal conseguia me mexer. Me anestesiava de amor e compreensão. E não menos importante, de esclarecimentos. Ele me disse tudo o que eu precisava e o melhor, ele me deixou lembrar do sonho.

Sorri. Levantei e a chuva já estava cessando, assim como minhas lágrimas.Continuei ali, contemplando.


sábado, 22 de novembro de 2014

Amor transcendente




Ao cair da noite de todos os dias, sempre penso no que estou fazendo com minha vida e com as pessoas que também moram nela. E cada dia há algo diferente pra eu lembrar. Volto ao remoto tempo para rebuscar as minhas promessas e acabo relembrando das missões que outrora concordara, com determinada pessoa, ou até comigo mesma. Então, abre um espaço mental e eu vejo nós dois de mãos dadas sorrindo e felizes naquela comunidade.

A gente tem laços valiosos e incortáveis. O que passamos juntos em todas as encarnações está guardado em nosso perispírito, que é o guardador de vidas passadas, e somente a nossa consciência pode acusar o que aconteceu se a sensibilidade e a fé permanecer dentro nós. 

Minhas palavras são muito simples, e podem chegar até seus ouvidos. Os sonhos não se traduzem nelas, pois nossa linguagem é pobre, mas o coração sente tudo em silêncio. Há palavras que já conheces com teus sentidos, e que podem descrever o que está aqui dentro de mim, mesmo que desconheças. É só tu olhares para dentro de si como olhas a natureza em dia de chuva, ou quando o sol esquenta a tua pele de manhã. E até podes ouvir com a tua alma, como ouves os pássaros que tanto amo, com a simplicidade de ser tão perfeito, o que precisar saber, enfim.

Já te disse um dia que a verdade está nas coisas simples, e não há motivos para entender o difícil. Isso é só passatempo para testar os conhecimentos que temos e até aonde vai a nossa teimosia em querer achar respostas das quais não existem. Deixe isso acontecer, isso se chama processo. Se insistes, causa sofrimento e cega as nossas expectativas. Sentimos quando estamos no caminho certo quando nos atentamos à intuição. 

Às vezes, por dentro das veias, está o sentimento. O sistema hominal é perfeito para onde a gente vive, mas imperfeito para o lugar que estávamos antes. Não só, tudo o que não podemos ver não é de todo verdade, pois há mais vida superficial. E sei que sabes disso, pois a tua inteligência consegue captar o que está acontecendo, e teu coração sente, mas não fala.

Te convido nesse instante a sentir esse amor que transborda em nós. Tu vives em minha vida e eu na tua. E cada pensamento que eu tenho de saudade esfola minha alma por eu lembrar de ti. Sim, lembro de ti, pois quando nos encontramos com aquele que nos fez promessas e se temos a sensibilidade de perceber, as lembranças vem, paulatinamente. E cada sonho – acordado ou não – os fragmentos vão se anexando. E aquele sofrimento vai desaparecendo, porque temos com quem caminhar nessa jornada tão cansativa.

Lembra quando andávamos pelas árvores do conhecimento? Bom, acho que não lembras. Mas eu sim. Tu me interrogavas o tempo todo, era até bom, a tua busca por respostas nunca cessou, embora tu chegavas sempre a uma conclusão sozinho de acordo com os teus conhecimentos. E ficávamos estudando a lei do amor.

- Para quê saber tanto, será que vamos usufruir de tudo juntos? 

- Tudo é necessário meu amor, desde que seja usado da maneira correta, e temos que merecer um ao outro, por isso todo esse conhecimento é necessário. E depois teremos que aperfeiçoar mais porque virão às provas, será aí que usaremos. Juntos ou não.

- Como tu és paciente, gostaria de ser assim também. Acho que tenho certa expectativa em relação ao que vou enfrentar quando for para lá.

- Não penses muito nisso, não é importante. Tu terás de ter paciência sim, é só pensar nas coisas boas que virá depois. E, para começar é bom silenciar seus pensamentos e ouvir tua alma.

- Espero nos encontrar sim, não terá graça sozinho.

- Nos encontraremos quando for o tempo. 

- E como saberei que és tu meu amor?

- Saberá.

E tu sorrias como um garoto que parecia estar conhecendo o mundo pela primeira vez. Seu sorriso elevava meu pensamento a Deus, porque teu amor brilhava em teus olhos. Tua alma encantadora era muito compatível com a minha. Nos uniríamos em breve.

Foi então que eu tive que me afastar porque era chegada a hora da separação. Separamos-nos por alguns anos de diferença. Então, nascemos em locais diferentes, cada um com sua família, para aprender mais um vez com a vida terráquea. 

A verdade está nas coisas simples meu amor. Cabe a nós realizar as nossas tarefas para enfim ficarmos juntos novamente e sermos felizes como antes.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A noite





Eu não via a noite como uma simples noite. Não! Eu a via com meus sentidos; os cheiros da sua correnteza de ar edificante em meus pulmões, a certeza da beleza naturezal que enfeitava as pareces dos meus olhos grandes. E como não amar a noite? Ela me dá tantas inspirações, por vezes, só para meu conhecimento. Só para que eu a sinta dentro de mim.
As noites foram feitas para os poetas e o dia para o restante da população. Os poetas, depois de sua rotina, se esticam na noite depois de um banho bem gostoso, pega sua xícara de café e vai respirar a noite. Assim que respira, enchendo-se do desejo de poetar, pega seu caderno e seu lápis e começa a florear as palavras metafóricas, expulsando o que há de novo em seu coração. Vira o pescoço para a esquerda em sinal de estar pensando na melhor frase para formar um texto perfeito.
E a noite só começa. O poeta beberica mais um pouco do café. Narra a noite no espaço que cabe desenhar a natureza, justamente pelo filtro dos seus sentidos. Aquela imensidão preta começa a mexer com sua imaginação. Cria-se até personagens, belezas, sentimentos, ações não vistas em seu cotidiano. O seu dia é tão limitado e somado por algumas pessoas tão banais, que quando chega a hora de escrever ele estica o sorriso mais doce, e seu coração se alegra imensamente por ter a oportunidade de imaginar o que quiser.
A cena continua a passar. O poeta descreve com palavras simples o que vê, ouve e sente a cada segundo que se modifica pelo tempo que passa. O amor cresce maravilhosamente dentro do seu peito e nada mais importa. O telefone toca, mas ele não quer perder aquele momento. Pois a paisagem está tão bonita e não se sabe se terá mais dessas para ser descritas. Dá até para ouvir a respiração do vizinho, que quieto, se ocupa com algo que passa na TV.
O coração do poeta transborda e um pensamento flui: Oh noite maravilhosa! E que vontade de chorar eu sinto pelo simples fato de poder te enxergar tão bem! Meus olhos marejados sorriem para o mar e, se devoram na imensidão negra que carrega o céu, me embebedo com muitos goles desse sabor tão raro. Ah se os outros pudessem sentir o que sinto, não iriam mais querer outra coisa.
É uma divulgação de emoções pelas ondas sonoras do seu cantar, impelido a jorrar certezas efêmeras, e mais nada do que vier é interessante. Além disso, as curvas da noite se empolgam com o colorido que sair dos dedos do poeta, quando ele, respeitosamente, enfeita-a com se fosse a única maravilha do mundo.
Mais uma vírgula, um adjetivo encantando, um substantivo inteligente, sujeito naturezal, verbo amorizado e complemento floreado, dois pontos e mais um adjetivo. Finaliza o poema.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Analfabetismo emocional



Era 17h30 da tarde.
Lola veste shorts jeans e um blusão bege que caí em seus ombros; sapatilhas super discretas. Seus óculos carregam a intelectualidade de que se orgulha, e o mesmo escorrega suavemente no contorno de seu nariz. Toda atrapalhada: bolsa, celular – com fones de ouvido disparando Numb do Linkin Park -, garrafa d’agua e um caderno nas mãos. Uma equilibrista material. Com um passe de estudante nas mãos, corre para pegar o ônibus.
Desce do ônibus.
Entra no prédio e depois na sala e senta. Liga seu notebook e abre o texto da aula e começa a ler. Desligara-se facilmente no contexto. Pouco fala, e pouco percebe o seu arredor, principalmente com o que acontece dentro dela mesma.
Ela não tem consciência profunda quando sua vida não está bem, mas tem sensações de que algo está errado, talvez por má sorte ou culpa do acaso. Adormecera em si mesma, e ignorara levantamentos de indagações. Além disso, achara que somente os fatores externos eram os culpados pela sua infelicidade: as pessoas ao seu redor, a cidade em que mora, o governo, o tempo e etc.
Ela não percebia o sofrimento que gerara para si. Não sentia o mundo real. E tudo ia se aglomerando em Lola de uma forma inconsciente, até chegar a um ponto que não se sentia mais, pois que já se acostumou com tal situação. A estudante estava consumida diariamente pela ansiedade, para resolver problemas lógicos, e isso a deixara em desiquilíbrio emocional. Claro, sem ela saber, ou ter apercebimento disso. Já que dava mais atenção ao racional.
Lola achava que se afundando em seus estudos e tomando atitudes que me parecessem mais lógicas, ela encontraria as soluções. Não percebia os erros que cometia, em se tratamendo da vida afetiva, e sofrimento surgia. Isso ela sentia friamente.
Em casa ela fazia favores para seus familiares e não percebia o aproveitamento exagerado dos demais, quanto a sua intelectualidade, em querer prestar sua atenção às coisas do tipo. As ideias prolixas e doentias que um o outro contava, no trabalho, e eram conversas com energias de assuntos imaturos e sem razão de se estender. E na faculdade, o cansaço mental dos professores e alunos, quanto a enxurrada de textos a serem lidos e mais lidos. Lola queria absorver o máximo possível, nada era exagero, nada era de menos, tudo estava normal pra ela, salvo aquela sensação de erro lá no fundo de sua alma que ela se recusava a entender.
Vivia dando desculpas ao namorado que tinha que estudar, mesmo sentindo muita saudade dele. Não só, aos seus amigos, aos familiares e a vida social, quando se tratara de emoções. O importante para ela era o intelectual, o emocional ela deixava de lado, já que não sabia como entender essa coisa. Ela tinha problemas de autoestima sem saber que tinha. Em vagas horas do dia ela se deixava pensar em nada. Faltava alguma coisa, mas ela não se interessava em saber.
22h55 ela chega a casa, toma um banho, come algo e vai ler antes de dormir, é algo sobre a aula de Filosofia que ela não havia racionado direito. O celular toca e é o gato manhoso dela, que ignora a ligação e volta para sua leitura que está mais interessante. Por volta das 23h49 deita e tenta dormir. 
Seus sonhos são justamente aquilo que reprime. Ela chora em seus sonhos todos os dias, não sabe se sente raiva, medo, angústia ou qualquer outro sentimento. Acorda lá pelas 03h57 da madrugada. Lola não ora, não sabe mexer com as energias superiores. Levanta e faz chá de camomila. Cai na cama e logo dorme de novo. E todo dia isso acontece. Ela não sabe que sofre de analfabetismo emocional.  
A garota não sabe lidar com os sentimentos, vive adormecida em seu recôndito medo. Ela traz sentimentos negativos que vão sendo criados por seus sentidos, dai se cria as doenças físicas, as energias fragmentadas que ecoam dentro e estragam os órgãos.
Lola tem problemas como: pressão alta, diabetes e alergias. Mas ela acha que esses problemas de saúdes são porque sua mãe tem, sua avó e seu pai. Ela não sabe detectar jogos de manipulação familiar,  padrões negativos repetitivos,  autoestima baixa. E tudo isso influencia demais em suas escolhas, que tendem a ser resolvidas sempre de forma lógica e prática.
No dia seguinte, lá pelas 22h15 seu namorado liga e ela atende:
- Até que enfim!
- Oi amor, como vai?
- Eu vou bem, mas acho que você não.
- Como assim? Eu tô ótima! Por que achas que não tô bem?
- Faz um mês que tô tentando falar contigo e nada. Tá me ignorando?
- Claro que não, é que tô com muito trabalho para fazer da faculdade. E também tem meu trabalho que me consome. Tu sabes muito bem disso.
- Tu vives nesse mundo intelectual e não se dá conta de que sofre de analfabetismo emocional!
- Como assim, O que é isso?
- Pesquise, já que você gosta de estar bem informada.
- Vou fazer isso.
- Faça! E depois nos falamos.
E desliga o celular.
A boa educação formal e a caseira não ajudara nesse aspecto quebradiço da sua vida. Pois a maioria tem analfabetismo emocional e não sabe. Principalmente o desequilíbrio emocional familiar, o que gera uma corrente negativa, da qual afeta a pessoa que não tem consciência do que está acontecendo. De que é o interior que precisa ser modificado e não o exterior. Lola pensava que era seu exterior.
Ela então fez uma série de pesquisas: percorreu a internet; recorreu aos profissionais na universidade, e não se convenceu do que se namorado afirmara. Seu ego defende a posição de vítima. O orgulho é maior. Ela não se permite enxergar de forma humilde o porquê do erro. E também, ignorara em todos os momentos o que é raiva, culpa e frustação, não percebia as manifestações físicas por causa das emoções. Vivia com dores de cabeça e achava ser culpa externa, mais uma vez.
Alguém sempre vai ter que falar. A “vítima” nunca vai dizer que tem o problema. Mas, dentre todas essas aglomerações de sentimentos sem questionamento, uma hora explode, e com Lola não foi diferente.
00h35 Lola começa a ficar sem ter o que pensar. Seu coração deslancha. Olha para o celular e disca o número do seu namorado, ele não atende. Liga de novo, e ele atende.
- Oi Lola.
- Por favor, me ajude a entender isso, eu não consigo.
Sua voz estava arrastada e carregada de choro.
- Estou indo aí. Até que enfim você pediu ajuda.
Desliga o telefone e senti um alívio percorrer todo aquele estado de ansiedade que a dominava sem ela perceber.
Depois de algum tempo ele chega.
Ela abre a porta e pergunta.
- O que eu preciso fazer primeiro?
- Praticar o autoconhecimento. Só assim reconhecerá suas emoções boas e ruins. E mais importante, usar os sentidos para ler a vida. Podemos começar?
- Podemos.
Finalizou Lola.

domingo, 28 de setembro de 2014

Alguém quis se comunicar





E tudo uma hora te pega de jeito, que não adianta ficar correndo, vai pegar e pronto! A cabeça fica confusa, mas logo vem aquela sensação louca dentro do peito, como se algo quisesse lhe falar contigo, e não houvesse como escapar:"calma e escuta!"
Então, em meio a turbilhões de sensações inexplicáveis, assim como todos os substantivos abstratos, vem à minha mente algo inconstante e toca ao meu coração algo, tudo o que eu não consegui sentir ou ver, enquanto aprisionada. E mexe lá dentro, e começa a abrir as portas, que um dia eu construí com todos os materiais disponíveis para fortificar uma fortaleza, inquebrável, um muro: o meu escudo.
E é nesse momento, que eu fico perdida e desorientada quando algo tão sublime me pega de jeito, e quebra esse muro que construí sozinha. Antes disso, ninguém conseguia passar por ele, pois a sua imensidão forte jamais permitiria. Eu ainda o alimentava sempre, para ter certeza que nunca falharia, um dia sequer. Mas, caí na minha própria armadilha, sempre tem um lado oco de um muro que ninguém vê, e justamente esse lado quase invisível alguém viu.
Foi achada então essa parte oca. Alguém quis de verdade entender porque não gosto de manter proximidades, o porquê disso e aquilo. Até então, eu me dirigia superficialmente com as pessoas, por cima do meu muro, não deixava ninguém ousar me perguntar por que eu o tinha construído. Eu não dava chances para tal ação. No fundo eu sabia que esse dia ia chegar, mais cedo ou mais tarde. Ou o mais tardar.
Certo dia, alguém, conseguiu adentrar meu campo, quebrou meu muro, invadiu minha casa, enquanto eu ainda dormia. Plantou sementes e jogou bombas para que eu acordasse depressa. Esse alguém dizia ser dotado de um amor incondicional por mim, jamais vi de fato esse alguém, mas segundo suas entonações, ele sempre quis se comunicar comigo. Eu que não deixava; mudava de assunto, não prestava atenção. Essas vezes em que esse alguém se aproximava eu nem notava que estava ali do outro lado do muro.  Mas, estava lá, só esperando uma oportunidade.
A oportunidade então veio. Lá estava ele, dentro da minha varanda, me oferecendo flores; as rosas que mais amo: rosa branca. Preencheu-me de algo que não sei explicar. Jogou palavras sublimes em meus ouvidos que até então eu não conhecia. Agarrou-me como se eu fosse algo desejado e único. Eu disfarcei. Senti que estava volitando. Foi ai que chorei, chorei lágrimas antes não choradas. Era uma sensação de prazer tão imenso que não consegui negar. Envolvi-me. Me senti como nunca antes na minha vida. E me perguntei várias vezes: “por que eu?”. Eu só queria ficar em meu canto, longe de ser uma sala de exposição, onde todos entram, olham, julgam e vão embora. Não! Eu não gostava disso.
Foi muito difícil entender a situação em que me meti. Pois, primeiro eu estava trancada dentro de mim, bastava um alguém de mansinho investigar as minhas fraquezas e entrar devagar na minha bagunça de vida. Pelo muro que achei ser forte, para me fazer entender que, não são as palavras faladas que ditam os significados de tudo na vida e sim as atitudes, os gestos, e as ações ocultas, feitas simplesmente por prazer em ver alguém feliz. E quando chorei foi por ter compreendido isso.
Aprendi que não posso evitar ninguém, visto que viver em sociedade te faz ser obrigada a conviver, mas se eu pudesse escolher, escolheria estar só, para não ter que enfrentar certas coisas. Isso me fez querer me abrir mais, do que me fechar para o mundo sem entender o que de fato querem me dizer.
Esse alguém é muito especial. Mais que especial. É a pessoa mais especial da minha vida. Esse alguém quis se comunicar comigo, mesmo percebendo que eu não gostaria. Conseguiu quebrar minhas fortalezas absurdas com um simples gesto. A caridade.



(...) "Procuro me desarmar, 
ando em busca de paz, 
respondo a vontade do céu,
sentimentos não precisam de provas". (...)



sábado, 9 de agosto de 2014

O que se leva desta vida?





Ela tentou, incessantemente. Chorou as noites que tinha para chorar, não por ela, mas pela ignorância dos outros em suas atitudes e pensamentos sem raciocínio e sem emoção. Felizmente ela era mais madura do que a sua idade humana. Felizmente ela tinha a sensibilidade para descobrir quem precisava do que, quem estava carente de que, e quem  não estava feliz com o que. Todavia, infelizmente, ela era sugada a cada tempo, nesse maldito tempo de angústias, de esperas por coisas que não iam acontecer, de agonias, de desesperança. Ela sabia que sabia mais do que devia saber e muitas vezes se perguntava: por que tenho que saber de tudo isso? Por que me sinto sem débitos com Deus quando ajudo essa raça que não sabe o valor da gratidão? Por que eu sou capaz de sentir o que eles sentem? Por quê? Aonde isso vai chegar? E eu, o que serei sem forças e sem energia? Não sei onde onde vem tudo isso, quem sabe é o meu amor incondicional? Ela refletia desse jeito, mas uma hora parou.
Muitas das vezes, as suas tentativas de tentar ajudar era em vão. Tamanha era a falta de sensibilidade e ignorância alheia, falta de percepção com o que acontecia ao redor. A única explicação que ela conseguia ter era de que eles não estavam preparados para entender a situação do momento, que havia mais véu do que lucidez. Então, em momentos que o cansaço físico e mental lhe tomava conta, ela ardia em lágrimas e vestia a roupa do despejo prático. Recolhia-se em seus pensamentos e tecia ideias das quais pudessem fazer sentido na cabeça daqueles que ainda não haviam despertado. Que estavam dormindo dentro de si. 
Com o planeta em transição, aqueles que são ou foram muito maus consigo mesmo,  e principalmente com os outros, estão indo embora; daí surgem doenças inexplicáveis ao entendimento humano, acidentes desacreditáveis, e outros tipos de mortes que não há compreensão. Esses estão sendo tirados da terra aos poucos, para se reparar e não mais contaminar e atrasar os outros que estão despertando para a vida. É como se fosse uma varredura. Para que a casa fique limpa é necessário que aja uma limpeza bem feita, assim, o ambiente fica harmônico. É isso que está acontecendo, mas ninguém pensa desse jeito, estão todos colados em suas mentes egoístas, orgulhosas, vaidosas e instáveis, querendo acumular o que é desnecessário, tanto material, quanto emocional e sentimental, sem pensar tanto no espiritual.
Ela sabia que a terra seria um lugar de luz daqui há uns milhões de anos, talvez. Dependendo da boa vontade do ser humano. A evolução humana ainda é atrasada e densa, por isso tantas calamidades para que acordem de uma vez. É estranho pensar nisso. Mas, pensando no grão de areia que cada pessoa é neste planeta minúsculo, e que cada ser possui a sua personalidade e bagagem anterior, é incrédulo acreditar o estrago que fazem e só com o orgulho e o egoísmo já é uma calamidade sem valor, só serve para mais aprendizados, repetitivos. É como se tivessem sempre reprovando na escola e não conseguissem passar de ano.
Além disso, ela temia por esses que deixavam sua vida numa vitrine, só para serem desejados e contemplados, porém fora dali, era diferente. Muitos não aceitam ajuda por sinalizar que não precisam, que podem se virarem sozinhos, isso ou aquilo, todavia eles mantem as aparências para os outros verem somente como são por fora, pois que dentro há uma imensidão podre que não foi varrida e continua lá criando "bolô" e fedendo cada vez mais. Tal qual como se deixa a parte do terreno da frente de sua casa bonito e arrumadinho, e atrás dela há sujeira e desordem. Não tem como esconder nada de Deus, pois ele tudo sabe. 
Ela era somente um instrumento de Deus. Muitas pessoas a temiam, não por ela ser má, mas por não ser falsa, não gostar de pessoas dependentes, no sentido de não moverem uma palha para mudar alguma coisa e, deixar os outros fazerem o trabalho mais denso. Então, os que queriam vida fácil a temiam pelas suas simples palavras, como: "eu te ensino como fazer" e não "eu faço para você". Eram muitos o que gostavam da segunda opção. Para quê se sacrificar se o outro pode fazer por mim? Assim tá fácil. Ela sempre de dispôs a ajudar dessa maneira, para que todos fossem independentes emocionalmente, sentimentalmente, e materialmente. Temos tudo o que precisamos, o resto é excesso. E o que excede não serve para si, e sim para o outro. O que sobra só serve para ser mais um véu para ajudar na cegueira que impede de ver todos os sentimentos correlatos ao amor e a caridade.
No dia do enterro dela essas lembranças ressoavam nas pareces dos olhos de todos ali presentes, onde as lágrimas caíam vagas. Ela estava toda de branco em seu caixão e todas as pessoas que a amavam, que gostavam e em geral nutriam algum sentimento por ela estavam ali. Seu rosto estava sereno, parecia em paz. Seus lábios num gesto suave congelava um sorriso simples. Suas mãos cruzadas, delicadas, muito fora o instrumento que usou enquanto estava usando aquele corpo. Todos estavam tristes. Sua morte fora causada por aneurisma cerebral, por consequência entrara em coma profundo.  Ocasionou em morte encefálica. Ninguém quis acreditar, pois ela nunca reclamara de dor de cabeça, falta de visão, ou qualquer sintoma do tipo. Ela sempre fora muito atenciosa e esquecia de si mesma quando tinha que ajudar o outro. Talvez nunca tivessem notado pela seus modos simples de não dá importâncias às suas próprias dores. Entretanto, ela estava lá e se pudesse ouvir os comentários, como: ela era maravilhosa; ela tentou me ajudar e eu não quis; ela sempre me ouvia; ela nunca se recusou a nada pra mim; eu nunca a vi triste; ai que saudade daqueles conselhos, daquele sorriso, daquela imensidão de amor e principalmente daquele olhar meigo e caridoso; era contínua as lembranças. Porém, não é isso que acontece depois que a pessoa morre? Não ficam falando e falando que a pessoa era isso ou aquilo? No entanto, o que se leva dessa vida senão os bens morais?


domingo, 13 de julho de 2014

Ser mulher



Ser mulher é chorar de madrugada quando tudo parece confuso
E como ela é o lado emocional, ser ela é complexo, por vezes.
Mas também, não é tão difícil assim, só tem que ser maleável.
Ser mulher é emergir do fundo do poço sozinha sentindo que pode dar conta.
É pensar na quantidade de sentimentos que lhe sopram o coração.
É caminhar pelas estradas, depois de uma separação, e refletir que não era para ser, que foi bom enquanto durou e o aprendizado valeu a pena.
É ficar em frente ao espelho, se olhar e gostar do que vê em seus olhos, em sua beleza natural.
É abrandar o coração daquele que se sente carente, àquele que pede abrigo em sua alma.
É escolher uma roupa para uma ocasião especial, com muito carinho.
É se sensibilizar com as multitarefas do dia a dia, sem perder-se de seus valores.
É acreditar que tudo na vida passa e o amanhã não está tão longe.
É se apaixonar e respirar profundamente quando se está amando.
É acreditar que a vida tem sentido, mesmo que a cenas não apresentem um por quê.
É se encolher nos dias de tempestades internas, e precisar de um colo somente seu.
É chorar quando algo não deu certo, e suas lágrimas se esticarem preciosas por seu rosto.
É abrir o coração e estar pronta para perdoar de novo e de novo, se assim for necessário.
É querer o bem da criança que está aos seus cuidados e protegê-la de tudo.
É ouvir as histórias dos cabelos brancos dos seus antecedentes com atenção e encantamento.
É organizar suas coisas, para que tudo esteja em seus lugares quando for procurar.
É pensar no amor, que rege seu coração com desejo que ele se espalhe.
É se arriscar, mesmo que o tempo volte contra a sua decisão.
É respeitar o homem da sua vida, e deixar que ele a complemente.
É sorrir mesmo nos dias difíceis, sendo otimista e acreditar que logo vai passar.
Ser mulher é entender que a beleza interior reflete na exterior.
E que a maternidade a faz ser protetora de outra vida.
É além de tudo, se mulher é sonhar e ser companheira.
É simplesmente sentir que o impossível pode ser realizado.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Joana I



Chovia muito naquela noite. As estradas estavam desertas, as paredes das casas estavam todas à mostra com a sujeira do tempo. Todas as almas recolhidas em seus recintos; uns esperavam a chuva passar no limiar da porta de bares e restaurantes, e outros, olhavam pela janela de suas casas confortáveis o tempo lá fora; um pouco amedrontados pelas trovoadas.
Joana, sem rumo, andava por essas estradas desertas, com lágrimas silenciosas. Em seu ventre carregava uma vida. A noite trazia trovões de desespero, raios de insegurança, escuridão de medo e fios de águas de vagas lembranças das quais a jovem não queria se lembrar. Não tinha para onde ir, nem a quem recorrer naquele momento. Seu pai ao descobrir sua gravidez, a expulsou de casa, não aceitava a sua gravidez indesejada. O pai do bebê rejeitou a ideia, porque era novo demais para assumir essa responsabilidade, era um simples universitário, sem preparo algum para uma vida mais compromissada.

Ela andou sem destino algum. A chuva não cessava. Suas roupas estavam encharcadas. As lágrimas se juntaram com as lágrimas da chuva e juntas lavavam sua alma.
Sua aparência taciturna, sem vida e sem expressão, trazia desespero e dor, e uma agonia sem fim. Seus olhos vagaram por cima de seus ombros e momentos depois, uma construção clássica chamou prendeu seu olhar, era uma igreja que estava toda iluminada. A futura mãe não era religiosa, nem sabia muito de Deus. Ia à igreja quando era pequena, mas não se lembra de saber rezar. Porém, tinha em mente que havia algo a mais, no entanto, nunca se interessara em querer saber. Sentou-se na beirada da Igreja. Olhou para a frente onde a imagem de Jesus dava boas vindas. Ela preparou-se para algo que não sabia ao certo o que era, mesmo assim, sentia necessidade de fazer algo, foi então que começou a orar:

- Senhor, eu não sei orar, nem sei como fazer isso, mas se houver alguém aí que possa me ajudar, eu serei eternamente grata. Por favor, meu Deus, só peço que me tire da rua, para que eu possa criar meu bebê em algum lugar seguro, e que ele não pague pelos meus erros.  

Pediu de coração arrependido e, e dando abertura à serenidade do momento. Joana silenciou. Sentiu o cheiro de terra molhada, a chuva, os carros que passavam pelas ruelas desertas daquela hora, se pos a chorar com muita dor e entrega, e segurava a barriga como sinal de proteção ao pequeno ser que se formava. Sentiu uma serenidade dentro de si como nunca havia sentido antes. Estranhou a sensação de amor momentânea, seu peito se encher de aluma coisa da qual ainda para la, não tinha nome, mas era bom. Era como se uma música linda tocasse só para seus ouvidos, e falasse que tudo ia dar certo. Ainda, com os olhos fechados respirou profundamente,  com lágrimas beirando suas bochechas pálidas. Se entregou àquele momento, que mais parecia uma conversa por pensamento, era como se sua alma se elevasse, ela não sabia o que estava acontecendo. O desespero, então, diminui.

Instantes depois, um homem simples passava em frente à igreja, e quando viu Joana sentada, e sozinha, não deixou de ter interesse em querer saber o que estava acontecendo com a moça. Não era normal ver alguém na chuva, uma hora daquelas e ainda sozinha. Aproximou-se e disse:

- Moça, você está bem? - Ela despertou, abriu os olhos e olhou para cima, não soube o que responder. Havia parado de chorar e estava consumida por pensamentos estranhos. Logo, o bom moço lhe despertou.
- Não. – Respondeu, trazendo uma voz embargada, e lembranças do motivo de estar ali.
- O que você está fazendo na rua essa hora? Por favor, me diga em que posso ajudá-la! Você está aqui há quanto tempo?
- Estou algumas horas. Fui expulsa de casa. – Respirou profundamente – Eu não tenho para onde ir... 
- Ah então deixe-me ajudá-la. Está frio, muito frio, você só com esse vestido?. - Ele a olhou calmamente.
- Sim, sai com a roupa do corpo.

O jovem pegou-a pelos braços e foi conduzindo-a até sua casa com muita calma, ele não sabia por que sentiu necessidade de ajudar uma desconhecida, mas seu coração apitou em sinal de caridade. Ao chegar a sua casa, pediu que ela entrasse que ele ia pegar uma toalha para que ela se secasse.

- Tome, acho que você precisa se secar um pouco, vai pegar uma gripe moça. – Deu uma pausa reparando mais na sua fisionomia e sentiu pena, principlamente quando viu o volume de sua barriga. – Vou lá pegar uma roupa que acho que vai servir em você.

Joana ia contestar, mas só conseguiu abrir a boca. Não poderia abusar daquele moço tão gentil que a trouxe para sua casa, sem ao menos conhecê-la. Enquanto isso, a moça foi reparando na casa, era simples, e bem arrumada. Tinha fotos numa estante e levantou-se para ver.

- Essa é minha família. – Disse ele ao descer as escadas percebendo para onde ela estava olhando.

Ela nada disse. Só deixou cair mais lágrimas em seu olhos. Achou bonita a união. Seu sonho era ter um lar doce e saúdavel. E por obra da vida ela estava passando por provas que não entendia.

-  Você disse que não tem para onde ir. Sentirei-me feliz em abrigar você aqui hoje, amanha veremos o que podemos fazer por você.
- Não tenho mesmo meu senhor. Parece que quando você está na pior, as pessoas que você acha que te amam, te ignoram - ela secou algumas lágrimas, respirou, como se refletisse sozinha, e continuou - por medo de que o problema seja delas. E é nesse momento que, ignorar, para elas, é mais fácil, do que tentar ajudar. Mas, não quero atrapalhar sua vida moço, você nem me conhece. Nem meu nome você sabe...

- Meu nome é Alberto e o seu?
- Joana.
- Prazer Joana. Tenho certeza que minha mãe não irá se importar de você ficar aqui hoje. Tem um quarto sobrando lá em cima, que era do meu irmão, mas ele não mora mais aqui, e você pode ficar à vontade se quiser usar o banheiro. Pode tomar um banho quente, em seguida eu vou preparar um chá pra você se aquecer..
- Mas...
Antes que ela falasse alguma coisa, ele relembrou.
- Minha esposa era parecida com você, acho que foi por isso que me chamou atenção.
- Era? Como assim? - Indagou atenciosa.
Perdi minha esposa e meu filho num acidente. – Ele silenciou, sabia que ela poderia perguntar. – Mas isso já faz tempo alguns anos e eu já superei. Aliás, todos nós um dia vamos, não é mesmo? Eu ainda estou aqui e tenho minha mãe.
- Obrigada e sinto muito pela sua perda. Sei como é perder alguém.
- Dói muito no começo, porque tem o apego... - Respirou fundo pela lembrança. - Mas não se preocupe. Deus sabe o que faz. Ele não te colocou no meu caminho por acaso.
- Você é muito gentil Alberto, não sei como agradecer você.
- Me agradeça indo tomar um banho quente e se cuidando, parece que você não está sozinha. 
Um minuto de silêncio, ele olhava para sua barriga.
- Bom, deixe-me levar você ao banheiro, você deve estar com frio. Depois, vamos lá à cozinha, vou preparar algo para você comer e depois te levar ao quarto.

Zilda, sua mãe, chorou muito porque Joana fora expulsa de casa, mas não podia passar por cima da ordem do seu marido, Júlio, que era severo demais. Joana pensou muito em sua vida naquela noite e decidiu acreditar que tudo era um pesadelo que logo ia terminar. Deitou na cama desconhecida e descansou.


VERSÃO NARRAÇÃO



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Meus eus

     


     E o meu mundo interior é configurado com cinco eus ativos. Esse mundo é constituído também por cores, por criaturas diversas, e cenários, às vezes, inimagináveis. Esses meus eus, dos quais se constroem segundo por segundo, criam em seus contextos sociais indispensáveis e obrigatórios, os seus conceitos e paradas necessários à tessitura das suas raízes verdadeiras.
     Às vezes, me pego usando esses eus sem perceber, e que vez ou outra, eu também me pego tendo consciência de que estou usando-os. Por vezes, quero varrer as tempestades dentro desse mundo que ninguém conhece; dentro de mim, que somente eu deixei tais sujeiras se acumularem em seus aspectos mais temíveis a meu ver, de acordo com as ideias utópicas que me envaidecem. Porém, isso faz parte das ideias dos meus eus, pois eles são partes de mim.
     O meu eu superior é um passarinho que me designa a voar, visto que sem ele eu não seria tão cabeça aberta e não teria vontade de arriscar de vez em quando; meu eu inferior quer mostrar métodos luciferiano ao meu coração, me fazendo acreditar que ele é o caminho certo; meu eu mascarado é aquele que cria mais cores e mais criaturas no meu universo particular e, me faz sair das rotinas estagnadas que meu eu inferior quis me colocar, pelo menos o eu mascarado me coloca em movimento; o meu eu criança é aquele que não me deixa esquecer que brincar faz parte da vida e que certos momentos com doces e travessuras, cobre a alma de guloseimas e piadas, aquelas que são necessárias para gargalhar de vez em quando, distrair a mente da bagunça interior. E há outro eu, não menos importante, é o eu observador, aquele que vê todos os outros eus agindo. Ele observa, coleta dados e analisa-os. É o eu observador que sabe o que se passa no palco da minha vida.
     Esse é meu mundo, aquele que é contínuo e efêmero, e também se desenvolve a cada vez que um dos meus eus resolve aparecer, com uma novidade ou até um problema. Além disso, sem eles eu não seria construída nas ruelas da minha imaginação fértil, pois não teria como viver em sociedade, visto que cada um é importante para meu crescimento moral e intelectual.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pagar o mal com o bem




Eu senti que havia no ar algo estranho e geralmente, coisas estranhas me chamam atenção. Eu própria sou uma estranha, e às vezes, faço estudo de caso em mim por me chamar a atenção. Então, estava eu quieta em minhas reflexões, absorta, numa quantidade x de pensamentos oriundos das minhas próprias indagações. Minha mente estava vaga, só se deixando ser preenchida por pedaços de ideias, para depois ajustá-las conforme os pensamentos que eu estava sistematizando.
Minutos depois, eu senti aquela sensação estranha voltar e olhei para a casa a frente, ali não morava ninguém, não que eu soubesse. Uma figura me veio à mente, e eu sabia que estava dentro daquela casa, querendo alguma coisa de mim. Eu não sabia exatamente o que era. Uma vez, me disseram que era perigoso prosseguir. Mas, eles não entendiam que eu não tinha medo. Poderiam ser as figuras mais horrendas, e esses seriam somente espíritos que durante sua vida terrena foram tudo, menos corações puros. Então eu fui...
Adentrei a casa escura e lamacenta. Ainda estava em construção, não havia nada  lá. Porém, havia pessoas. Caladas. Não se moviam, pareciam sofrer, e pensando um pouco, estavam à mercê de alguém mais poderoso. Mas quem? Seria a voz que soou em meus ouvidos para eu entrar na casa?
- Quem são vocês? - Perguntei, esperando por respostas.
Ninguém falou nada. Todavia, eu sabia que nenhum deles que estavam ali, era a voz que havia me chamado. 
- Estou aqui, o que você quer de mim? - Direcionei minha indagação a ele.
Apareceu uma mulher, de cabelos escuros. Muito parecida com a aquela personagem cadavérica, a Morticia da Família Addams.
- Quero sua ajuda. – Disse, sem nenhuma emoção aparente.
- Em que eu poderia ajudar? Aliás, quem é você?
- Não sou ninguém, não vai se interessar por isso.  - Pausou. - Eu fiquei preso aqui nessa casa, meus egos não quiseram ir comigo para onde ordenei.
- Isso só mostra o quanto você não dá a mínima para eles, que o poder que acha que tem não é suficiente. Eles são partes importantes de você, deveria se esforçar mais em amá-los.
- Como assim? Por justamente fazerem parte de mim, eles tem que me obedecer!
- Acontece que não é bem assim. Já percebeu que com seu egocentrismo não vai conseguir nunca? Você deixou que eles agissem sozinhos. Já disse, eles são parte de você. A culpa é de quem? Das estrelas que não é! Você não sabe amar.
- Não preciso de palavras cômicas agora, só desejo que me ajude.
- Claro, posso ajudar sim, mas em troca você liberta essas pessoas que eu vejo.
- Não! São meus escravos!
E logo, seus egos começaram a aparecer individuais e independentes. Ele ainda não tinha mostrado a sua figura plúmbea. Se escondia dentro daquele corpo de mulher, achando que eu ia ficar sensível em querer ajudá-lo. Mas não, ele estava sabendo que não.
- Eu não quero voltar. – Disse um ego.
- Ele não sabe de nada, não sabe dizer nada. – Disse um outro.
- Nós somos partes que o constituem, ele não é nada sem nós. E se não voltarmos, ele não poderá ter mais força. – Disse um terceiro ego.
Ali havia muitos, todos com a mesma aparência. Era um homem, com a cor de chumbo, que mais parecia estar se transformando em ovoide. Seu campo metal já não existia mais, eu não via nada mais do que uma massa de energia desfigurada, aprisionada ao horror de suas enfermidades incessantes.
- É isso que você quer? – Perguntei.
- Sim, eu peço, estou ficando sem forças. Nesse tempo de vazio eu pude pensar no tempo que fiquei aqui, sozinho, com minha raiva do mundo, das pessoas que me fizeram mal e alimentado pelo estado de vingança. Sinto muita raiva ainda, não consigo não sentir.
- Mas as pessoas não nos fazem mal. Primeiro, quando nos sentimos ofendidos pelas palavras de alguém é porque dentro de nós, da nossa alma, algo está desajustado, por isso que palavras do tipo, ressalta o que você tem que modificar; do desequilíbrio para retornar ao equilíbrio. Você está coberto de orgulho, egoísmo, vaidade, e todas as outras combinações a estes sentimentos que eu disse antes, o fazem cair em baixa vibração sempre, e por esse motivo está do jeito que está. Onde você pensa que vai chegar?
- Não sei e não sei mesmo se quero saber. Eu não consigo amar, detesto os que amam, que acham que a vida é flores e tudo é fácil. Muitas pessoas dizem que amam porque são interesseiras, não ligam para você. Prometem ficar ao seu lado quando você precisa, e quando chega o dia que você precisa todos somem. Não são capazes de ter empatia. São frios.
- E você é capaz de ter empatia?
- Eu já tive, já ajudei muitos. Mas sempre recebi ingratidão. Ninguém quer agradecer, ficar perto, ajudar. Ninguém! Estão mais interessados em querer tudo pronto, se você tem o que eles querem são gentis, mas se não tem, lhe apedrejam e lhe excluem de sua vida. Como posso querer o amor se ele ainda não me mostrou o lado bom?
- Simples. Você precisa passar por isso, nada é desnecessário. E só conseguirá amar, quando se conhecer melhor amar os seus defeitos e aí, estará pronto para amar os outros. É você que escolhe os sentimentos que quer ter?
- Não. Até agora não consegui escolher, pois se antes eu tentava e não dava certo, eu hoje desisti de todo ele em qualquer circunstância.
- Mas é você que os deixa se desenvolver dentro de si. Você alimentou a raiva, a vingança, a vontade de fazer o mal. Mas para quê? Se o principal machucado dessa história é você? Não há como voltar e arrumar o passado, mas você pode começar a mudar agora.
A partir do momento que eu fui falando, seus egos foram se aproximando dele aos poucos, todos com aquela camada densa, dependentes. Os pensamentos dele ficaram mais leves, e isso fez com que os egos ficassem perto, a ponto de querer voltar. 
- Eu odeio o que eu fiz comigo, porém não quero mais ficar perto daqueles ingratos.
- Você primeiramente precisa estar bem com seus egos, alimentá-los com esperança e fé, e principalmente de amor. E o já o tem dentro de você, é só querer pegar um pouco de vez em quando. Porque esse problema é de você para você. Seus egos são apenas partes que você tem que transformar, são resquícios de outros tempos que ficaram para serem resolvidos pelo conhecimento que adquirisse agora. Use a sua capacidade da linguagem para isso, seja racional, mas se utilize mais do coração. Você conseguirá.
As pessoas que estavam ali foram sentindo se desprender aos poucos, e sumindo. Só sobrou eu, ele e seus egos, ainda fora dele. Então eu vi, um por um, entrar nele. Cada um que entrava fazia com que ele sentisse dor e gritasse. Essas dores representaram a sua coragem e credibilidade em tudo o que falei. Porque todo espírito que é denso demais, não vibra e não sente, é como se estivesse em estado mórbido, incapaz de sentir que está vivo. E ele começou a sentir novamente, por isso, as dores. Era um novo despertar.
O último entrou nele e uma luz violeta se beirou em sua cabeça. Sua forma ganhou um pouco de tonalidade lilás. Havia agora outras figuras do bem ao seu redor, emanando luz azul, violeta, branca e prata e, todos orando para que aquele espírito inferior voltasse para as suas origens e quisesse se retratar com ele mesmo perante as enfermidade que se deixou criar.
Após alguns momentos de distribuição de energia, aquele espírito se sentiu melhor e voltou a sua figura de homem, um belo homem pelo visto. Cabelos curtos, alto, moreno.
- Eternamente grato, meu nome é Henson.
- Que seja feita a vontade do Pai e não a minha. Vá com Deus irmão.
E ele se foi, juntamente com os outros. O caminho ainda lhe seria longo demais, pois passou muito tempo culpando os outros pelas suas frustrações e cada culpa o fazia se distanciar de si mesmo, aglomerando uma massa cinzenta de energia indisposta, da qual não teve utilidade nenhuma. Isso resultou em seu aprisionamento, e a independências de seus egos. Ficou naquele estado enfermiço porque se alimentava de raiva.  Além disso, o mal se alimenta do bem dos ignorantes que não sabem o que fazem, e suas energias leigas servem de alimentos para seus algozes. O ódio e o rancor o rebaixaram, pois, para ser superior ao seu adversário, que seria seus egos, deve ter a alma mais nobre, maior e mais generosa. E isso é pagar o mal com o bem, por mais difícil que seja.