E tudo uma hora te pega de jeito, que não adianta ficar
correndo, vai pegar e pronto! A cabeça fica confusa, mas logo vem aquela
sensação louca dentro do peito, como se algo quisesse lhe falar contigo, e não
houvesse como escapar:"calma e escuta!"
Então, em meio a turbilhões de sensações inexplicáveis,
assim como todos os substantivos abstratos, vem à minha mente algo inconstante
e toca ao meu coração algo, tudo o que eu não consegui sentir ou ver, enquanto
aprisionada. E mexe lá dentro, e começa a abrir as portas, que um dia eu construí
com todos os materiais disponíveis para fortificar uma fortaleza, inquebrável,
um muro: o meu escudo.
E é nesse momento, que eu fico perdida e desorientada
quando algo tão sublime me pega de jeito, e quebra esse muro que construí
sozinha. Antes disso, ninguém conseguia passar por ele, pois a sua imensidão
forte jamais permitiria. Eu ainda o alimentava sempre, para ter certeza que
nunca falharia, um dia sequer. Mas, caí na minha própria armadilha, sempre tem
um lado oco de um muro que ninguém vê, e justamente esse lado quase invisível
alguém viu.
Foi achada então essa parte oca. Alguém quis de
verdade entender porque não gosto de manter proximidades, o porquê disso e
aquilo. Até então, eu me dirigia superficialmente com as pessoas, por cima do
meu muro, não deixava ninguém ousar me perguntar por que eu o tinha construído.
Eu não dava chances para tal ação. No fundo eu sabia que esse dia ia chegar,
mais cedo ou mais tarde. Ou o mais tardar.
Certo dia, alguém, conseguiu adentrar meu campo,
quebrou meu muro, invadiu minha casa, enquanto eu ainda dormia. Plantou
sementes e jogou bombas para que eu acordasse depressa. Esse alguém dizia ser
dotado de um amor incondicional por mim, jamais vi de fato esse alguém, mas segundo
suas entonações, ele sempre quis se comunicar comigo. Eu que não deixava;
mudava de assunto, não prestava atenção. Essas vezes em que esse alguém se
aproximava eu nem notava que estava ali do outro lado do muro. Mas, estava lá, só esperando uma oportunidade.
A oportunidade então veio. Lá estava ele, dentro da
minha varanda, me oferecendo flores; as rosas que mais amo: rosa branca. Preencheu-me
de algo que não sei explicar. Jogou palavras sublimes em meus ouvidos que até
então eu não conhecia. Agarrou-me como se eu fosse algo desejado e único. Eu
disfarcei. Senti que estava volitando. Foi ai que chorei, chorei lágrimas antes
não choradas. Era uma sensação de prazer tão imenso que não consegui negar. Envolvi-me.
Me senti como nunca antes na minha vida. E me perguntei várias vezes: “por que
eu?”. Eu só queria ficar em meu canto, longe de ser uma sala de exposição, onde
todos entram, olham, julgam e vão embora. Não! Eu não gostava disso.
Foi muito difícil entender a situação em que me meti.
Pois, primeiro eu estava trancada dentro de mim, bastava um alguém de mansinho
investigar as minhas fraquezas e entrar devagar na minha bagunça de vida. Pelo
muro que achei ser forte, para me fazer entender que, não são as palavras
faladas que ditam os significados de tudo na vida e sim as atitudes, os gestos,
e as ações ocultas, feitas simplesmente por prazer em ver alguém feliz. E
quando chorei foi por ter compreendido isso.
Aprendi que não posso evitar ninguém, visto que viver
em sociedade te faz ser obrigada a conviver, mas se eu pudesse escolher,
escolheria estar só, para não ter que enfrentar certas coisas. Isso me fez
querer me abrir mais, do que me fechar para o mundo sem entender o que de fato
querem me dizer.
Esse alguém é muito especial. Mais que especial. É a
pessoa mais especial da minha vida. Esse alguém quis se comunicar comigo, mesmo
percebendo que eu não gostaria. Conseguiu quebrar minhas fortalezas absurdas
com um simples gesto. A caridade.
(...)
"Procuro me desarmar,
ando
em busca de paz,
respondo
a vontade do céu,
sentimentos
não precisam de provas". (...)