terça-feira, 17 de junho de 2014

Leonardo: o imediatista




 Leonardo nunca se perguntou o que era o sofrimento, e era o usuário dele de vez em quando. Além disso, o dicionário já respondia: dor física ou moral. E para ele a resposta estava ali e não precisava entender o que era esse sentimento. Ele não tinha tempo e paciência para tal ação. Tudo bem, mas isso não explica em sentido prático, e Leonardo sofria por ser imediatista, mas ele não sabia como não ser imediatista, por isso sofria. O empresário não sentia interesse algum em comprovar o que era/é o sofrimento.
Para Leonardo, era perda de tempo esperar por qualquer coisa que fosse, e não valia seu tempo e nem sua dedicação. Ele só queria resultados e de preferência, para ontem, pouco se importava com as pessoas que amavam os processos. Sem rodeios, nada de muitas explicações, ele só queria praticidade. Só.
Leonardo nunca se deu conta de que existe muito mais do que ele vê, e ele estava enfadado ao sofrimento sem conhecê-lo. Como se fosse um cego. Ele nunca gostou de filosofia, isso era perda de tempo. Nunca se perguntou o que era a dor física ou a dor moral? E nem mesmo antes disso, nem se atrevia a perguntar o que era o físico e o que era o moral. Tudo sendo um jogo de perguntas e respostas, da qual requer paciência nesse processo de aprendizagem. E Leonardo? Nem sinal de empenho algum nesse quesito.
Quem tem paciência? Leonardo não tem! Por isso nunca a perdeu. Era acostumado a ter pessoas ao seu redor trabalhando para ele e lhe dando somente resultados. E nada de acompanhar processos. Talvez nunca tenha se apaixonado, que triste era Leonardo sem um amor, tal qual um pássaro sozinho no mundo sem poder usar o seu cantar, ou escondendo ele. E também, ele nem tivesse capacidade para aguentar um relacionamento, pois isso exigiria tempo e paciência, e o imediatista teria que esperar passar por um processo, isso seria contraditório. Mas, Leonardo não! Ele só tinha tempo para seu crescimento material.
Leonardo via a vida racionalmente. E ele tinha sérios problemas com seu imediatismo. Desenvolveu uma ansiedade patológica e fobias do depois. É! Leonardo era apaixonado pelo agora e morria de medo de que o depois chegasse sem os resultados que ele queria. Ele acreditava que a vida era somente o presente. E por isso, ele tirava conclusões precipitadas, em relação às emoções, de algo que ele mesmo criava, pois não se dedicava a aprender a lidar com elas. Mas também, ele se deixava levar pelas suas criações, através do veneno eficiente da sua imaginação que estava dando uma pitada nas respostas. Mas por quê? Bom, o porquê não se sabe, mas seu ego imediatista o fazia sofrer horrores na calada das noites, em seus pesadelos sistemáticos. Lá ele sofria mais porque tinha que esperar o pesadelo passar, ficava preso até seus olhos abrirem novamente. Dormir passou a ser uma tortura e não um descanso, não para Leonardo.
E todas as noites Leonardo sentia um vazio enorme. Ele não sabia lidar com a mãe ao telefone, ela falava muito de sentimentos e ele sempre tirava  conclusões imprudentes, pois não sabia ouvir e nem falar, não sabia fazer papel de interlocutor quando era necessário. O problema é que ele não era bom com diálogos; ele só se perguntava por que as pessoas gostavam tanto de fazê-lo esperar, e tinha taquicardia. Mas quem sabia disso? Ninguém! Leonardo não tinha para quem contar.
Um dia, por causa dessa ansiedade, ele parecia ter vulcões dentro dele que o queimava e uma hora explodiria. Pediu a sua assistente o resultado das últimas vendas da empresa, e ela se demorou. Para quê? Leonardo sentiu fortes dores no peito e falta de ar, caiu duro no chão, suando frio e foi levado ao hospital às pressas com ajuda da ambulância. Seu corpo estava elétrico, ele se debatia, gritava. Os médicos cuidaram dele e resolveram fazer exames. Leonardo, depois da crise, viu que estava num hospital. Sua ansiedade voltou e a taquicardia também. Ele não aguentou esperar o resultado dos exames e não resistiu. O imediatista veio a óbito. Ele ainda teve sorte de morrer no hospital.




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