sábado, 6 de dezembro de 2014

Jonas Fernando





         Era uma vez Jonas Fernando... Um poeta, que trabalhava numa livraria. Era desastrado, falava baixo, tímido e simples, e melhor, japonês. Porém, Jonas sabia se expressar de uma forma tão sublime como nunca vi antes, através do seu olhar amistoso e sensível, deveria ser canceriano. Eu sentia tudo o que ele queria me passar, e até o que não queria. Sabíamos muito sem dizer nada. 
           Ele era vendedor na livraria, o conheci lá. Todas as quartas-feiras eu entrava na livraria e, indo na seção de literatura brasileira lá eu o via. Meu rosto já não era qualquer rosto, ele já viu mais vezes, pois Jonas acabou percebendo que eu ia lá uma vez por semana, visto que meus olhos adoravam os olhos puxados dele. Eu não resistia. Eram lindos  e apaixonantes.
            Então, todas as quartas antes do meio dia eu ia lá. Era como uma recarga de energia quando eu o olhava e o sentia me olhar. Eu perguntava das novidades literárias, mais as poesias, e ele falava amavelmente, como se gostasse das minhas perguntas e eu aproveitava cada segundo. Era tão bom ficar perto dele, sentir seu cheiro, ver seu interesse em me ajudar. Além disso, ele não se esquivava de mim, como faziam a maioria dos vendedores quando satisfaziam a vontade do cliente, oferecendo um: "se precisar é só chamar". Não Jonas, ele ficava comigo até eu sair. E eu ia ambora esperando que viesse a próxima quarta.
              Foi num dia quente, veraneio, quando peguei um livro e o deixei cair por manter minha outra mão ocupada, Jonas logo correu, mesmo estando tão perto de mim, em minha direção e ambos abaixamos, e nossas cabeças se bateram, meu coração acelerou forte quando as mãos dele pareciam dois gelos escorregadios segurando as minhas. O belo japonês baixou os olhos e se desculpou. Eu segurava um copo de suco na outra mão, e nervosa deixei cair sem ao menos pensar que estava segurando um copo com suco.  Sorte ela seção não tinha ninguém. Imediatamente Jonas, prestativo, pegou um pano e passou no chão, e depois perguntou se eu queria me lavar no banheiro da livraria, para não ficar suco na minha blusa porque era doce e ficaria melando meu corpo. Estava tão calor. Eu vestia uma saia florida e a blusa era bege.
            Jonas, dócil, me levou ao banheiro e enquanto eu passava sabonete com água na minha blusa, na parte que derramou suco, eu pedi que ele não me deixasse sozinha. Os olhos deles eram de espanto, o máximo que ele podia com aqueles olhos horizontais, porque eu tive que levantar minha blusa e minha barriga ficou à mostra, para que eu pudesse lavar direito. Eu não poderia tirá-la. Meu rosto nesse momento era da cor do fogo.
            O rapaz ficou calado, nada saía palavras de sua boca, embora eu estivesse com muita vontade de agarrá-lo ali mesmo, e arrancaria as palavras não ditas. Segurei-me, como muitas vezes me seguro quando vejo uma coisa linda dessa, para não alarmar mais a situação em que nos encontramos. Além disso, eu ia só naquela livraria para vê-lo e acho que ele sabia disso.
            Eu me encontrava dentro do banheiro, colada na pia e Jonas, na porta, me esperando. Ele não contestou o meu pedido para permanecer ali, simplesmente me obedeceu, não se mexeu, só disse: "Me desculpe, sou desastrado" sorriu ao ver que eu também sorria. Fiquei ruborizada quando ele soltou aquelas palavras que mais pareciam dois tapas na minha cara. Estava mais envergonhada com suas falas do que com seu olhar na minha barriga, porque sua voz era tão meiga! E tirava minha sanidade.
            Quando percebi que já tinha conseguido me livrar do açúcar, agradeci a ele, dei um sorriso e ele ainda ficou me olhando. Depois um sorriso brotou em seus lábios finos, mostrando seus dentes alinhados e brancos. Ah, não pensei duas vezes e disse: “ Você é tão lindo, seus olhos são tão lindos, é bom vir aqui e encontrar você”. Jonas arregalou os olhos sem esperar aquela avalanche de verdades da minha boca. Apenas sorriu, e como um belo olhar, japonesamente, pegou em minhas mãos, beijou as costas delas e recitou uma poesia, enquanto me olhava:

Jamais vi olhos tão vibrantes
Jamais vi boca tão sedutora
Jamais senti uma energia tão gostosa
Jamais conheci uma mulher tão encantadora
Jamais fiquei admirado com tanta pureza
Jamais alguém me desequilibrou assim
Jamais consegui analisar tão simples beleza
Jamais alguém olhou assim pra mim
Jamais senti perfume tão doce e acolhedor
Jamais desejei alguém com tanta certeza
Jamais gostei de brincar de amor
Jamais, tão de perto, vi uma princesa.
Eu quero ser teu, e tu, queres ser minha?

            Minha testa franziu,  como um japa tímido daquele poderia recitar uma poesia? Me peguei procurando sua coragem, pois nem eu, que às vezes sou atrevida, faria isso. Só deu tempo de eu pensar quando Jonas me abraçou e me beijou ali mesmo.