sábado, 1 de setembro de 2018

Um pedaço do tempo




Talvez a vida seja uma teia complica de coisas mesmo, não é? Porque se paro e penso, sei que,  às vezes, eu preciso ouvir a minha voz. Talvez, seja só a chuva lá fora que quer conversar um pouco. Eu não sei dizer bem o que é, mas é algo muito profundo para que  eu tenha uma compreensão visível, até para a minha própria pessoa.

Eu tenho a imensidão dos meus dias. Quando não me atraio por aquilo que é banal, já falei tantas vezes sobre isso. Não sinto mais nenhum vazio dentro de mim, sinto apenas que existem milhares de coisas que eu ainda não sei explicar. Lembro uma vez que, no fim de um relacionamento, eu tive a "inspiração" de escrever um romance. Na época, eu trabalhava em uma tabacaria, e para compreender esse universo do fumo, estudei um livro escrito em espanhol, que tinha na loja para vender, sobre a história dos charuto. Me fascinava saber a origem das coisas - até hoje me fascina - e quando chegava em casa, ligava o computador e me deixava levar. Construir uma história em dois meses, e finalizei com 90 páginas; senti que foi o suficiente. Se tratava de um casal mexicano: uma dançarina profissional e apaixonada pela música e um empresário, sério e desafiador. Sempre amei a língua espanhola. Então, veio a ideia de escrever um romance mexicano. Meus dois personagens principais, é claro, sofreram bastante antes de acontecer o melhor da trama, enquanto isso naveguei pelas boates mexicanas e músicas envolventes. Como eu escrevi um romance, em uma época que eu não estava bem no meu? Bom, sou do avesso, então quando passo por algo, tenho a ideia inversa, porque fim sei que tudo acaba. O livro foi revisado por uma professora de espanhol que eu estimo muito, mas acabei deixando o livro guardado. Quem sabe um dia eu o revivo. É que na tabacaria havia muitos romances de bolso, talvez eu tenha me inspirado no modelo dali mesmo.

Mas, volta às reflexões da vida, a Clarice Lispector é uma pessoa da qual tenho muita admiração. Ela era profunda como eu, e pensava a vida dessa forma inversa, sempre saindo de padrões, porque vamos e viemos, para que se prender se a liberdade é maravilhosa? Ela mesma dizia que não era escritora profissional, pois o profissional é aquele que tem a obrigação de escrever. E em relação à padrões de escrita e normas, ela também fugia. Nada é mais importante do que se expressar na hora que queremos. AS regras existem para organizar o mundo, mas não para nos prender a ele. Clarice escrevia quando queria com o objetivo de manter a própria liberdade. Concordo plenamente. Mais libertador do que isso não existe.

Lá fora chuva cai, já disse que gosto muito quando chove? A natureza é mãe, me agrada, parece que estou mais perto do divino. Isso o homem não pode mudar. Ela não pode ser controlada, nem pela gramática, pois não precisa de sujeito e nem complemento, quer mais liberdade do que isso? Não precisa de mais nada. A chuva pode ser comprada à felicidade, se for pensar dessa forma, ela não está em algo e nem em ninguém. Não precisa de um sujeito para ser o que é, e não precisa de algo, de nada. Ela é independente. Veja só, independente. A chuva vem e vai, sem precisar avisar, sem precisar de controle físico, mental, emocional, psicológico, ela não precisa de nada. Eu queria ser a chuva. Ela molha para deixar rastros, mata a sede da terra, dos vegetais, dos animais, dos seres humanos, e não pede nada em troca. A chuva é caridosa. É mãe. 

Tenho quintas coisas para estudar, em pleo no final de graduação, mas cá estou, com vontade de dedilhar pelas teclas e escrever e escrever. Assim, relembrando a Clarice, que não escrevia no papel, mas sim datilografava. Quantas e quantas vezes, na madrugada, eu quis ser ela, eu quis ter pegar um papel e escrever uma frase, para assim quando acordar desenvolver um pensamento. Será que ela gostava de Beethoven como eu gosto? De Chopin, Debussy, Erik Satie? É tão bom. 

A vida é uma fração de segundos, se tu não estais contigo mesmo, então se apresse em se encontrar

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