quarta-feira, 8 de abril de 2015

Quando desejei desencarnar





De onde veio àquela voz? Eu não sabia; não tinha medo, nem sequer queria saber sua natureza. Eu só escutava e mais nada. Influência má gera escolha equivocada e eu sei bem disso. Sabe como? Vou contar.

Nada parecia bom. Eu estava num vazio. Mesmo sabendo que um vazio não é vazio, é preenchido por um tipo de vazio, semelhante a outros. Eu não via alegria em meus dias, eu não conseguia sorrir. O estresse tomou conta de mim. Quis sumir do mundo e pela primeira vez eu quis morrer.

- Te mata que é mais fácil! – A voz adentrou minha mente então.

Eu compreendia que o espírito em evolução só tende a melhorar se souber sentir a dor, sem sofrer mais do que o normal, que a vida é um processo. Sabia mais, que após o desencarne eu iria continuar vivendo, ir para meu umbral. Mas para desejar isso, seria eu a minha própria obsessora? Já pensei tantas vezes isso. Até que me veio à mente que seria um acúmulo de coisas mal resolvidas, um acervo de muita ação feita do jeito errado, o que só atrairia espíritos com a mesma vibração. A lei de causa e efeito não é falha, o que falha sou eu, um ser humano errante. Teria que me perdoar setenta vezes sete.

Então, havia um tempo que eu queria e desejava desencarnar, na hora eu não pensava no que ia ver depois do meu desencarne. Cheguei a escrever uma carta de despedida, toda elaborada, cheia de floração pelas paredes das palavras, para que as pessoas soubessem que eu era feliz. Que aquela garota cheia de vida, conselheira de muitos e sempre sorridente queria deixar esse registro, escondendo de verdade a dor  real que tinha dentro dela, e que ela não deixava isso ser transparente. Eu sempre fui um enigma.

Mas não percebia que, ao planejar algo sem saber como executar, estava registrando toda aquela mágoa, angústia e desânimo em meu perispito, e que mais tarde isso me seria cobrado. Quando uma pessoa esta agindo da mesma forma que pensa é mais difícil fazê-la mudar de ideia, já que o erro vai ser cometido com vontade. Agredindo a mim mesma sem perceber e deixando certas sequelas. E por que é tão fácil viver sob a influência negativa? Porque o “país” não motiva? Por que os brasileiros são materialistas e imediatistas e não entendem que esse país é a pátria do evangelho? Por que as pessoas que aqui moram não conseguem  alfabetizar seu próprio espírito? Isso dói, pior que um cego que não vê.

Então vem o desânimo, cheia de desventura segundo o meu humor. Eu queria me jogar em qualquer canto e ficar lá. Poderia ficar olhando a parede por horas, só para não ter que pensar em nada. Eu cheguei ao cansaço físico extremo, desenvolvi dores musculares que eu nunca tive antes; sem contar as tonturas, pressão sempre baixa, enjoos e falta de apetite. Pensei eu que estava com alguma doença, já que tinha sonhado que eu estava com câncer, vendo meu próprio corpo doente, magro e pálido, meu rosto esbranquiçado e foi então que eu decidi que morreria de câncer.

- Você está morrendo.

Aquela voz parecia que tinha prazer em me ver desfalecer. Emagreci. Jurando que o efeito da doença estava começando. E quando penteava meus cabelos eu via cabelos caírem mais do que o normal. Eu comecei a puxar meus cabelos para ter certeza que eles não sairiam do lugar. Testava a situação, me imaginava sem cabelo, usando lenço, toda feliz sabendo que ia morrer. Não sei como consegui fazer isso. E contei a um amigo, a única coisa que ele disse, foi: “força mulher!”. E mesmo assim aquilo não me tocou o coração, eu só falei normalmente sobre a minha vontade de desencarnar.

O tempo foi passando. A faculdade me desanimava. Meu trabalho me estressava. Em casa eu tinha a minha paz no meu canto, sozinha. Sentia-me mal. Eu estava me jogando à morte do corpo, pois acreditava que meu espírito estaria livre. Mas para onde ele iria?  Que eu saiba não se pode interferir na vida já que Deus é bom e justo, e nos dá a oportunidade de reencarnar para corrigir atos errantes de outra vida. Eu estava à beira do suicídio. Como contar essa vontade à minha família? Eles de fato me chamariam de louca porque eles só conhecem meu lado forte, aquele que eu mostro com frequência. Mil coisas passaram em minha cabeça. E comentei com outro amigo, que ficou aterrorizado e não quis mais falar no assunto, disse que era princípio de depressão. E eu falei que não sabia o que era depressão, rejeitava essa hipótese. Mas, agora faço terapia porque decidi que necessito de ajuda para me entender de vez.

Sei que há influências espirituais, sei que somos mais influenciados do que imaginamos. E percebi que eu estava sendo. Essa vontade louca de voltar ao mundo espiritual não era desejo meu. Eu que sempre fui cheia de vontade de viver, sempre falando para quem quisesse escutar que a vida tem propósitos, que as coisas só fazem sentido quando conseguimos manter a mente bem aberta para os acontecimentos da vida. E que tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já dizia Fernando Pessoa.

Foi então que eu ouvi:

- Lembre-se do amor de Deus, você não estaria aqui se não fosse por alguma razão e nem sem a vontade Dele. E não esqueça dos ensinamentos que você já tem, isso já lhe serve.

E percebi que era somente uma dor fantasma. Não era eu que queria desencarnar. Descobri que sou empata ou sensitiva, que sou capaz de sentir o que outra pessoa sente, não preciso nem olhar. Descobri que posso sentir os encarnados e os desencarnados em seus menores ou maiores grãos de emoções; descobri que também posso bloquear isso, mesmo que me doa não poder ajudar, porque não posso abraçar o mundo. Cheguei à conclusão que havia um espírito perto de mim me fazendo acreditar que eu tinha que morrer. Mas não, eu despertei, chorei muito e pedi perdão a Deus por ter entrado na sintonia desse espírito sofredor e pedi também ajuda pra ele. Depois, essa vontade passou e eu não desejo mais desencarnar.

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